Esporte

Uma literatura indígena para falarmos de indígenas – 11/04/2025 – Txai Suruí

Published

on



A Bienal Internacional do Livro do Ceará, ao longo de 15 edições, vem se consolidando uma vez que um dos mais importantes eventos culturais do gênero no país e já tem lugar na agenda literária estadual e vernáculo.


Com o tema “Das fogueiras ao queima das palavras: mulheres, resistência e literatura”, a bienal, realizada em Fortaleza, de 4 a 13 de abril, trouxe uma linda programação, com palestras, oficinas, lançamentos de livros, contações de histórias, apresentações artísticas e outras ações do campo literário.

Neste ano, o evento reforça o papel da cultura e da ancestralidade na literatura. Essa mesma literatura, que nos permite voar em nossa imaginação e saber outros mundos, tem papel fundamental em nossa ensino e na construção do imaginário coletivo da sociedade e na recontagem de nossas próprias histórias.

O tema “Das fogueiras ao queima das palavras” me leva de volta às histórias sobre meu povo, sobre os espíritos da floresta, sobre a forma uma vez que entendemos a geração do mundo e nossa relação com ele.

Lembro essas histórias contadas pelo meu avô quando eu, meus irmãos e meus primos éramos crianças.

Me faz pensar nas várias noites em que eu e meus irmãos insistíamos com nossa mãe por mais uma história antes de dormir. Sem mais histórias para relatar, ela criava outras, sobre os bichos e a floresta, para nos ninar.

“O queima das palavras” me lembra que palavras têm poder. Que são uma vez que flechas que denunciam uma verdade ainda invisibilizada e transmitem uma cultura de imensa riqueza, uma vez que nos mostram os grandes discursos dos líderes e escritores indígenas.

Quando discursei na COP26, em Glasgow, pude denunciar ao mundo a violência vivenciada por nós naquele momento e lembrar que nossos modos de vida têm a chave para superar a crise do clima. Por isso devemos estar nas mesas de decisões.

Desde que comecei a redigir cá na Folha, busco trazer questões pertinentes à vida dos povos indígenas e de toda a sociedade através do olhar de uma jovem mulher indígena. Faço isso em uma prelo tradicional, na qual unicamente 0,2% dos profissionais se identificam uma vez que indígenas. Hoje, Ailton Krenak e eu somos os colunistas indígenas cá desta Folha. Contamos nossas histórias em resguardo dos povos e da floresta.

É necessário dar voz aos pensadores e escritores indígenas para que transmitam o verdadeiro pensamento dos povos originários, não os estereótipos criados sobre nós pelo colonizador.

Representações uma vez que “Iracema” ou “O Guarani” não refletem a verdade dos nossos povos, mas ainda habitam o imaginário coletivo. São imagens que reforçam preconceitos e não mostram nossa riqueza cultural e intelectual.

É empoderador e nos dá orgulho sermos os protagonistas de nossas próprias histórias, mostrando nossas origens e quem somos.

Que possamos ler cada vez mais escritores indígenas e negros para saber e valorizar as nossas raízes.

E entender que podemos redigir sobre o que quisermos e gerar novas belas histórias, assim uma vez que minha mãe fazia.


LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul aquém.



Acesse a fonte

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais lidas

Sair da versão mobile