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Uma escol que sabe muito, mas entende pouco – 14/04/2025 – Michael França

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Em uma manhã qualquer, entre um brunch com avocado e uma conversa sobre alguma viagem à Europa, um membro de uma típica parcela da escol brasileira pode ser flagrado cometendo um erro velho, mas ainda recorrente: confundir experiências internacionais com sofisticação, e credenciais com educação de superioridade.

Já faz qualquer tempo que se sabe que o acúmulo de conhecimento formal não anda, necessariamente, de mãos dadas com o desenvolvimento integral do ser humano. Ainda assim, quando se trata das elites brasileiras, o tema raramente é considerado à fundura de sua prestígio.

Talvez porque seus protagonistas ocupem posições confortáveis demais para serem questionados. Ou, quem sabe, porque a lado mais esclarecida prefira evitar o desconforto de confrontar seus pares que estão blindados pela própria soberba. No término, uma segmento peca pela ignorância, a outra, pela complacência.

Todavia, essa negligência não é fortuito. Ela tem raízes profundas na lógica educacional brasileira, que, mesmo em suas melhores versões, funciona menos porquê instrumento de formação e mais porquê ornamento de evidência social.

Em vez de expandir horizontes, a ensino das elites tende a ser um subterfúgio para um sofisticado mecanismo de hierarquização social. Um filtro de status. Um verniz técnico que, por vezes, encobre uma brutal escassez de interesse em edificar uma região, em vez de somente se servir dela.

Nossos melhores colégios e universidades até formam especialistas competentes, mas, em muitos casos, deformam cidadãos. Produzem indivíduos altamente eficazes do ponto de vista técnico, mas com baixa sensibilidade social. O dispêndio disso é supino, pois se cria uma escol treinada para governar, mas não para compartilhar. Uma escol focada em vencer, mas não em conviver.

Existe no país uma pedagogia do privilégio. Uma pedagogia que ensina, desde cedo, que o mundo é um espaço a ser explorado, não construído coletivamente. Ensina-se a liderar, mas não a escutar. Ensina-se a performar, mas não a refletir. E, não raramente, ensina-se uma arrogância disfarçada de cultura, juntamente com um desprezo pelas dores e experiências do país real. Aquele que começa logo depois os altos muros dos apartamentos e condomínios fechados.

Mesmo nas franjas mais conscientes dessa escol, o problema não é o excesso de ensino, mas a estreiteza com que ela é concebida. Ocorre uma formação instrumental, mas sem densidade moral. E, quando essa escol malformada ocupa os espaços de decisão, tende a perpetuar privilégios, naturalizar desigualdades e substanciar estruturas excludentes, muitas vezes com a fé sincera de estar fazendo o melhor.

Curiosamente, falta-lhe formação para pensar o país porquê um todo. Ou por outra, segmento significativa ainda vê o Brasil porquê uma plataforma de extração, não porquê uma região a ser construída. A despeito de sua mobilidade internacional, seu imaginário segue provinciano.

Transformar a ensino dessas elites exige muito mais do que reformar currículos, exige reformar consciências. Porque um país com elites mal-educadas está fadado a repetir os mesmos erros, porém em versões cada vez mais disfarçadas de superioridade.

O título é uma homenagem à música “Colonial Mentality”, de Fela Kuti.


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