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Turnê de Gilberto Gil é de outra natureza – 10/04/2025 – Renato Terreno

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É preciso fabricar uma novidade termo para definir a última turnê de Gilberto Gil. O que acontece no palco não é unicamente um show. É uma vez que se a música fosse vestida pelo cinema e, dessa fusão, brotasse uma terceira forma de arte.

Tudo é muito atado pela direção de arte de Rafael Dragaud, pela cenografia de Daniela Thomas e pela pesquisa de Julia Schnoor. A sentimento é a de que cada música reúne elementos para se transformar numa cena. São tijolos que vão se somando e ampliando o impacto da sequência de canções.

Isso acontece em várias camadas. Quem conhece pouco a vida e a obra de Gil percorre o show numa experiência que não é só músico. Os fãs vão se lambuzando com cada pormenor. O telão traz imagens de registro preciosas, artes impressionantes e até depoimentos.

Impossível trespassar da turnê sem se encantar com o passeio que começa em Ituaçu, na Bahia, e dialoga com as referências que o pequeno Gil ouvia, ainda muchacho, pelo rádio ou pelo sistema de alto-falantes.

A música de Luiz Gonzaga teve impacto tão grande que o primeiro instrumento de Gil foi um concertina. No telão, as imagens projetadas de Gonzaga e Dominguinhos ganham um complemento no palco: o músico Mestrinho é apresentado por Gil uma vez que um discípulo que agora é rabino do concertina.

Os outros pilares são erguidos na música seguinte: “Eu Vim da Bahia”. Foi depois João Gilberto em “Chega de Saudade” que Gil abandonou o concertina para abraçar o violão. Os rostos de Caymmi e João são projetados no telão, e os olhos, na lesma que fica no meio do palco. A revolução tropicalista de “Domingo no Parque” é evidenciada. No palco, o toque de berimbau leva imagens de capoeira para o telão. À medida que a música avança, as cores fortes vão aparecendo.

Mas é na cantiga seguinte, “Cálice”, que o show ganha seu vértice cinematográfico. Um testemunho em preto e branco de Chico Buarque é projetado no telão. Quando Gil canta, o público vê imagens da ditadura: estudantes espancados, fotos de Rubens Paiva, Stuart Angel e Vladimir Herzog. A música termina com as imagens de Caetano e Gil fichados pelo Tropa brasiliano. A obra de Gil também é sobre liberdade, comportamento, consciência racial, paixão, espiritualidade e muitos outros temas que vão além.

Há uma teoria inovadora e generosa de Brasil, e sua última turnê conseguiu captar tudo isso.


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