Você já deve ter ouvido alguém falar que não consegue ou não sabe relaxar. E isso deve ter-te parecido uma frase de efeito um tanto pedante.
Pois tente relaxar de verdade: permanecer cinco ou dez minutos numa posição só, quieto, tentando observar o que se passa nas várias partes do seu corpo; feito isso, tente concentrar-se em alguma coisa que eventualmente possa minorar as flutuações da mente, o fluxo incessante de pensamentos –a respiração, por exemplo.
Difícil, né?
Muito, não tanto depois que você começa. Isso é ioga, ou reflexão, duas coisas que na verdade são uma só, ainda que alguém possa associar essa “tecnologia milenar indiana para tranquilizar a mente”, porquê diz o professor de ioga Danilo Forghieri, com distensão (o “stretching”, para usar o termo adotado na Califórnia em priscas eras).
(À guisa do que o mundo corporativo chamaria de disclosure, Danilo é professor de ioga deste colunista no Cepeusp, o Centro de Práticas Esportivas da Universidade de São Paulo.)
Todas as posturas de ioga, os asanas, algumas de vestimenta alongamentos, outras torções, outras contrações, outras posições de estabilidade, mais os estímulos respiratórios e os de tantos outros sistemas internos, formam não mais do que um prelúdio para o pega-pra-capar que é esse momento de a gente, paragem, fixo, quieta, tentar minorar as tais flutuações da mente.
Vale a pena: a prática estável e regular disso pode te conduzir a um incremento de saúde mental e, eventualmente, cardiovascular.
“Hoje temos evidências de benefícios da prática regular de ioga principalmente no campo da saúde mental. Ajuda no combate à depressão, ansiedade, estresse, síndrome do pânico. Mas também ajuda no tratamento de hipertensão e problemas cardiovasculares”, diz Danilo.
É sabido que a prática regular de outras atividades físicas também ataca e possivelmente previne esses gravíssimos problemas, mas a ioga tem talvez mais altas pretensões.
Patânjali, o sujeito a quem é atribuída a consolidação dos saberes milenares da ioga, havia deixado evidente que a principal finalidade da prática, se entendi muito, era fabricar as condições para que em qualquer momento de nossas vidas a zero ambicionemos, a zero nos apeguemos, para que possamos transpor da tal roda cármica de sofrimentos (ou, vá lá, de afetos).
Da nossa perspectiva, o objetivo não parece factível e, mais do que isso, não parece desejável. Mas o longo caminho até essa “aniquilação de todas as condições de existência”, frase que leio porquê uma das possíveis definições de ioga numa página da Wikipedia, envolve esse trabalho de tentar minorar, quem sabe mesmo parar, as flutuações da mente.
E esse trabalho, esses minutos regulares de prática, vão te fazer mais são. “Na ioga, focamos na saúde mental, e a saúde do corpo vem de brinde”, diz Danilo.
Enquanto escrevo isto, ouço motoristas a buzinar incessantemente, porquê a reclamar mais velocidade do companheiro da frente, para que consigam finalmente marchar 20 ou 30 metros e terçar o interceptação –somente mais um interceptação de talvez centenas.
A buzina, eles sabem, não tem o dom de mudar a programação do semáforo.