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Sou contra o tchau, mas o oi é fundamental – 08/03/2025 – Antonio Prata

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Tem a saída à francesa: não dar tchau pra ninguém. Tem também, aprendi outro dia, com um colega judeu, a saída à judaica: permanecer dando tchau e não ir embora nunca. Segundo ele, pra um povo perseguido por tanto tempo e com mães especialistas em provocar culpa, permanecer ouvindo repetidamente “mas tão cedo?”, “fica mais um pouco!”, “nem conversamos recta!” é uma espécie de reparação emocional. (Disclaimer: esta crônica, ao reportar o judaísmo, não fará nenhum glosa sobre a guerra, os atos atrozes do Hamas e a política de extermínio de Netanyahu. Meu colega nasceu no Tatuapé, é corintiano, come arroz com feijoeiro, trabalha com limpeza de caixas d’chuva e não tem zero a ver com os conflitos do Oriente Médio.)

Voltando ao tchau. Além da saída à francesa e à judaica, tem a pior de todas, a saída infinita: a do cidadão que se oferece pra te dar carona e não vai embora nunca. Você pega o celular pra invocar um Uber e a suposta boa espírito diz —eminente, pra outros ouvirem— “imagina, te levo!”. Basta você vigiar o telefone no bolso, ele olha pro lado e fala pra uma turma: “ei, pessoal, sobre a viagem da Páscoa, vamos organizar as compras?”. Você tenta, com jeito, expressar que prefere invocar o Uber, não tem problema, tá tudo muito, mas o faceta insiste: “De maneira nenhuma! Eu te levo!”. É você botar novamente o celular no bolso e: “Portanto, pessoal, eu posso ir no Atacadão, vamos fazer a lista? Alguém aí é intolerante à lactose?”. Ele finge estar fazendo um obséquio a você, mas no termo você é que está fazendo um obséquio a ele, deixando-o posar de bom cidadão. Por essas e outras, sou contra o tchau.

O oi é fundamental. Quem não dá oi tá no mesmo círculo do inferno de quem destrata o garçom. Aquela olhadinha pro solo da pessoa que te conhece, vindo pela lajeada, por preguiça de simplesmente erguer as sobrancelhas, levantar a mão e mandar um “opa!” é razão suficiente para ter a ingressão barrada nas portas do firmamento.

Você tem que dar oi. Se não por ensino, ao menos por interesse. Quando eu tinha uns 12 anos, entrei no prédio e não dei oi ao porteiro. Meu pai falou: “Meu fruto, tem que dar oi pras pessoas. Primeiro, por reverência. Segundo: vai que alguém é assassinado cá, interrogam os moradores, aí vão expressar: aquele jovem do 142 era estranho. Fechado. Quieto. Entrava no prédio e não dava oi pra ninguém”.

Se o oi é um ato de reverência (ou autopreservação), o tchau costuma ser o auge da hipocrisia. Em poucas situações mente-se tanto quanto nas despedidas. “A próxima vai ser lá em lar!” “Precisamos nos ver de novo!” “Vamos tomar uma cerveja semana que vem?” “Segunda-feira eu te ligo pra falar desse projeto, mas tá tudo perceptível, vai rolar!”

Pensando muito, o tchau, encapotado de simpatia, é um ato de puro egoísmo. Tipo: “Olha, estou privando você agora da minha presença, lamento muito que sua vida vá seguir com esse buraco que deixo ao me ausentar. Te dou um amplexo de consolo” —e ainda espera-se um glosa de lamentação. “Mas já?” “Tão cedo?”

Ou, pensando melhor, pode ser o contrário, o tchau pode ser um momento de fragilidade, em que você abre um flanco pra “evidente, amanhã leio seu romance de 476 páginas!”, “evidente, eu fico com seus três cachorros na viagem” ou, pior, dependendo da sua instabilidade e do que você prometeu no momento, “marcado amanhã, às seis da matina, no Ibira, pra inaugurar o treinamento pra São Silvestre!”. Poderia terminar essa crônica com um tchau. Não o farei.


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