Esporte

Quem se importa com os manguezais do Amapá – 09/03/2025 – Marcelo Leite

Published

on



Por muito menos escrevi em 9 de dezembro de 2006 uma pilar com o título “Sai daí, Marina”. A ministra do Meio Ambiente resistiria ainda cinco meses no incumbência, mas antes teve de ouvir de Luiz Inácio Lula da Silva: “Jogaram o bagre no colo do presidente. O que eu tenho com isso?”

Lula se referia à dourada (Brachyplatystoma rousseauxii), que pode inferir mais de 1,5 m e teria sua transmigração rio Madeira supra barrada pelas usinas Santo Antônio e Jirau. A viagem mais longa de um peixe de água doce, 11 milénio km da foz do Amazonas ao sopé dos Andes para desovar.

Parecer técnico do Ibama havia recomendado negar o licenciamento das hidrelétricas, por falta de viabilidade ambiental. Marina saiu, as barragens do Madeira foram erguidas, depois Belo Monte no Xingu, e a ministra está de volta ao lado de Lula.

O Ibama se vê de novo na berlinda, posteriormente analistas recomendarem vetar a perfuração exploratória de petróleo no conjunto 59 da bacia da Foz do Amazonas. A decisão final cabe a Rodrigo Agostinho, presidente do instituto que os nacional-desenvolvimentistas do PT e os oportunistas do centrão cobiçam escorraçar.

Técnicos do Ibama avaliam porquê insuficientes medidas previstas pela Petrobras para remediação e resgate em ecossistemas de grande preço e fragilidade. Lula poderia muito exclamar: “Jogaram o caranguejo no pescoço do presidente. O que eu tenho com esse mangue?”

Alguma informação para matizar a presumida opinião presidencial: o Brasil conta 1,4 milhão de hectares (14 milénio km2) de manguezais, segunda maior extensão do planeta (8% do totalidade) depois da Indonésia (20%). Um quarto da vegetação original já se perdeu com expansão de cidades, produção agrícola, poluição e elevação do mar.

Tapume de 75% se localizam nos litorais do Amapá, do Pará e do Maranhão, que confrontam a margem equatorial e compõem a maior extensão contínua do mundo. Os dados são da publicação “Carbono Azul dos Manguezais”.

Mangues são ambientes peculiares, com subida produtividade biológica e importantes serviços ecossistêmicos, apesar da extensão reduzida (0,13% do território pátrio). As árvores características amortecem a violência de tempestades e ressacas, bastando uma tira de 100 m para minorar 2/3 da vontade erosiva.

Dão abrigo e sustento para reprodução de aves e mamíferos. Depende dos mangues um sem-número de moluscos, crustáceos e peixes, para os quais constituem verdadeiro berçário. Quase 300 milénio pescadores e marisqueiros do país vivem dos recursos ali coletados.

O conjunto 59 fica a uns 160 km de Oiapoque (AP) e outros 500 km da foz do Amazonas propriamente dita. Mas não é a intervalo que conta, e sim correntes marinhas e a capacidade de reação da Petrobras a derramamentos em extensão tão remota e sem infraestrutura do país –fulcro da avaliação pelo Ibama.

Os mangues importam, sim. E olhe que o não se encontra no escopo do instituto a principal razão para questionar a extração na foz do Amazonas ou em qualquer novidade bacia petrolífera: o aquecimento global pela queima de combustíveis fósseis, que já espalha desastres climáticos pelo mundo.

Além de bagres e caranguejos, no pescoço do presidente há milhões de crianças pobres nascidas e por nascer, que sofrerão as piores consequências de sua anfibologia.


LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul inferior.



Acesse a fonte

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais lidas

Sair da versão mobile