A coisa não ia zero muito na França cenográfica do século 18. O ano, na verdade, era 1967 e o responsável Emiliano Queiroz não sabia mais o que fazer com a romance que lhe escapava das mãos. Tempos depois, ele seria perpetuado por interpretações magníficas porquê a do Dirceu Mariposa em “O Bem-Amado”. Por ora, fazendo jus ao próprio título, “Anastácia, a Mulher Sem Destino” seguia desgovernada.
Foi preciso, portanto, que a mãe natureza agisse em forma de Janete Clair. Promovendo um terremoto que dizimou tramas, destruiu cenários e poupou menos de meia dúzia de personagens. Corta para: vida que segue. A história dá um salto de 20 anos, Leila Diniz vira filha de si mesma e vamos que vamos, sem olhar para trás. Deixando um rastro não só de ruína, mas sobretudo de originalidade.
Pensando friamente, a lógica por trás de um terremoto de Janete Clair é resplandecente e pode ser aplicada a qualquer tipo de fiasco —considere-se você responsável titular ou figurante sem fala do próprio enredo. Sempre que uma situação de natureza romântica, familiar ou social estiver estagnada, dando prejuízo e pouca audiência qualificada, vale a pena refletir: “Quem daqui merece continuar no script?”
Em 27 anos de televisão, assisti a muitas ascensões meteóricas —nota mental: meteoro também costuma tombar muito em caso de emergência— e baques triunfais. Tendo escrito para todos os gêneros de programa, tenho para mim que Janete Clair até hoje ensina duas coisas: 1) Calma, pode entrar em pânico, sim. 2) Bora lá resolver.
Por essas e por outras, quem trabalha comigo já conhece o bordão. Ao primeiro sinal de perrengue, antes mesmo que a terreno chegue a tremer, eu já ergo um dos braços, dando um grito. Ou sussurrando, no caso de estarmos ao vivo ou com alguma gravação em curso: “Terremotinho de Janete Clair!!!”
Inicia-se aí o protocolo de segurança. A depender da magnitude —”2″ para falta de elenco, “4” para treta com a direção, “7” em caso de protagonista cancelado nas redes sociais—, providências são tomadas.
Cheguei a testemunhar um arrasador “9,5” que fez um núcleo inteiro desvanecer depois um escândalo que sacudiu a prensa e a opinião pública, mas sabe porquê é. Depois de qualquer tsunami vem a calmaria tensa do profissional que se sabe pronto para tudo, uma vez que até apocalipse zumbi tem solução.
No centenário dessa gigante da teledramaturgia, dela que foi a senhora original de todos os destinos, sugiro, portanto, uma novidade tabulação para encrencas. Abandonemos a Graduação Richter para adotar, de uma vez por todas, o ISO JANETE CLAIR 100.000.