Paulo Francis dizia que “a melhor propaganda anticomunista é deixar o comunista falar”. Um pouco similar vale para o gasto nababesco com a cúpula do Poder Judiciário. A melhor sátira ao salário de um juiz é deixar o juiz falar.
Num podcast, o desembargador Orlando Perri, do Tribunal de Justiça do Mato Grosso, se lamuriou: “Eu já passei agruras na magistratura financeiramente”. Dentre elas, trocar de projecto de saúde por um menos dispendioso. “A vida de um magistrado é quase porquê a vida de um monge”, disse.
Não sei que mosteiro Perri frequenta, mas, para quem recebeu R$ 1,4 milhão em 2024, entre salário, gratificações e indenizações, porquê apurou o UOL, deve ser uma luxuosa vida monástica.
O desembargador Ricardo de Mello Belli, do Tribunal de Justiça de São Paulo, defendeu os altos ganhos da categoria no jornal O Estado de S. Paulo. Dentre os argumentos, alega que sua classe é assoberbada por trabalho.
Ora, se 90% dos R$ 132,8 bilhões em despesas com o Judiciário em 2023 não servissem para remunerar salários e penduricalhos, talvez fosse provável alocar recursos em tecnologia e gestão para diminuir filas de processos e atender a população de modo mais eficiente. Por fim, esse é o objetivo dos impostos pagos pelo tributário —não prometer uma vida de luxo a servidores que estão na fatia de 1% de brasileiros que ganham supra de R$ 28 milénio por mês.
O desembargador usa falácia retórica ao insinuar que a cobertura da prelo sobre o tema contém fake news porque não indica que os benefícios estão previstos em lei. Mas penduricalhos são questionados justamente por serem um artifício lítico que permite remunerações supra do teto do funcionalismo (R$ 44 milénio).
Belli sugere ações judiciais contra veículos que criticam supersalários. Não seriam textos jornalísticos, mas uma “investida mentirosa” que incitaria raiva direcionada ao Poder Judiciário.
No entanto o que pretexto indignação é magistrado, num Estado democrático de Recta, propor solapar a liberdade de imprensa para evitar críticas a um mecanismo que autoriza ganhos suntuosos a uma linhagem da sociedade.