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Os caminhos para a reconciliação
A justiça restaurativa é “um conjunto ordenado e sistêmico de princípios, métodos, técnicas e atividades próprias, que visa à conscientização sobre os fatores relacionais, institucionais e sociais motivadores de conflitos e violência, e por meio do qual os conflitos que geram dano, concreto ou abstrato são solucionados de modo estruturado”.
É um noção que implica a sociedade na produção das pessoas que nela vivem. A teoria de que a sociedade é corresponsável pelos crimes que seus membros cometem. Porquê poderia ser dissemelhante? Uma sociedade que se des-implica dos horrores que dentro dela operam não é uma sociedade igualitária ou democrática.
Compreendi que minha luta encontra abrigo nesse setor da justiça e que ela se dá por restauração e não por cancelamentos ou prisões. Acho que o poder da transformação de pessoas e de comunidades é o que temos de mais bonito e humano.
Somos um país com 800 milénio presos, a terceira maior população carcerária do mundo, e ainda assim os índices de violência não param de aumentar. Se tirar seres humanos das práticas sociais e jogá-los em depósitos sem nenhum trabalho para reformá-los fosse a solução, o Brasil seria um paraíso de silêncio e de tranquilidade. Tem que subsistir um outro caminho. E a Justiça Restaurativa mostra alternativas.
Quando cheguei ao salão do Recomendação Pátrio de Justiça, onde o coquetel de lançamento do encontro que reunia desembargadoras, juízas, servidoras e policiais que trabalham no setor estava acontecendo, fiquei completamente comovida. Eram centenas de mulheres, algumas com seus filhos no pescoço, outras amamentando, unidas em nome de uma possibilidade de nos reconciliarmos. Um salão completo de profissionais do sistema judiciário brasiliano e de seus sonhos por um Brasil inclusivo.
Conversei com juízas, servidoras, policiais, facilitadoras, entre outras profissionais do ramo, que me contaram histórias emocionantes de transformações que elas testemunharam. Entendi que existem mulheres do Acre ao Rio Grande do Sul que dedicam suas vidas a tirar das prisões crianças que nasceram nelas porque suas mães estão detidas – na maior segmento das vezes por crimes comuns e banais. Crianças de dois e três anos que nunca viveram fora de uma quartinho. Crianças que quando se encontram com alguém colocam seus bracinhos para trás porque é o que veem suas mães fazerem nas prisões. Quase 80% das presas no Brasil são mães.