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Os bons e maus agouros do PIB de 2024
O consumo das famílias representou R$ 7,5 trilhões, em um PIB totalidade de R$ 11,7 trilhões (64%). O investimento (formação bruta de capital fixo) totalizou R$ 2 trilhões (17% do PIB de 2024). O consumo do governo alcançou R$ 2,2 trilhões ou tapume de 19%. Portanto, a expansão do consumo das famílias sustentou o PIB pela ótica da demanda.
Somente um parêntese. O PIB pode ser calculado tanto pela ótica da demanda ou consumo quanto pela ótica da oferta ou produção. A terceira forma de operação do PIB é pela ótica da renda. As três metodologias levam ao mesmo resultado. Por exemplo, aquilo que alguém consumiu (demanda) foi produzido por uma firma (oferta) e gerou determinado volume de salários e lucros (renda).
Pelo lado da produção, os serviços atingiram R$ 7 trilhões ou 60% do PIB, enquanto a indústria ficou em R$ 2,5 trilhões ou tapume de 21%. Finalmente, o agronegócio totalizou R$ 0,7 trilhão ou 6% do resultado totalidade. Assim, a maior taxa para o prolongamento do PIB de 2024, pelo lado da oferta, considerando-se a taxa de variação e o tamanho do setor, veio dos serviços.
Essa dinâmica de prolongamento baseada em consumo e serviços, além do desempenho relevante do investimento e da indústria, não tem uma vez que se sustentar em 2025 e 2026. A questão medial é que, na presença de uma política monetária contracionista, a desaceleração é líquida e certa, uma vez que tenho escrito há bom tempo. E os efeitos não são imediatos; há defasagem tanto na ida quanto na volta dos juros.
O objetivo do Banco Médio é moderar a inflação. Ele reage a dados realizados, mas, principalmente, às expectativas informadas pelos agentes do mercado. Assim, elevam-se os juros básicos para turbinar o dispêndio do crédito, desestimular o investimento e o consumo. O resultado esperado é o desaquecimento da atividade econômica e uma variação menos intensa dos níveis de preços da economia (inflação mais contida).
Os juros mais altos também afetam o dólar, porque estimulam a ingresso de capitais estrangeiros, estes à procura de retorno suficiente para recompensar o risco. A conferência das taxas de juros, cá e lá fora, é importante por esta razão: um diferencial proeminente entre juros internos e externos, tudo o mais permanente, atrai mais capitais e, assim, o dólar cai. Para a inflação, um bom negócio, já que as importações ficam mais baratas, tanto de bens finais uma vez que de componentes usados pela indústria e por outros setores.
Ocorre que a subida de juros em curso não teria sido necessária ou, no mínimo, poderia ter sido muito mais branda e menos duradoura, se a política fiscal estivesse em melhores condições. O déficit nominal (que inclui todos os gastos, inclusive com juros da dívida), de 8,5% do PIB, as pressões sobre os gastos e o contínuo aumento da dívida pública deixam de molho as barbas do mercado. Pior, levam a especulações e apreensões, muitas vezes justificadas; outras, não.