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O que o Prêmio Nobel nos ensina sobre o Cadastro Único? – 07/03/2025 – Laura Machado

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Vamos supor que um país queira adotar uma política social focalizada, ou seja, concentrar os recursos disponíveis na população mais pobre e fragilizada.

Os benefícios da focalização são muitos: a redução da desigualdade é maior, não se criam circunstâncias nas quais famílias beneficiárias ficam em situações piores do que estavam antes do mercê e o recurso não é gasto com quem não precisa. Um dos desafios para fazer a focalização é ter um bom cadastro de beneficiários.

É indiscutível os excepcionais serviços que o Cadastro Único vem prestando ao Brasil. Mas é fundamental ressaltar que a vulnerabilidade da renda das famílias não é estática, a pobreza é volátil. Por exemplo, a renda de um ambulante informal pode variar muito de um mês a outro, assim porquê a de uma manicure informal. Em que medida o Cadastro Único, que, a rigor, precisa ser atualizado a cada dois anos e é feito só a partir da autodeclaração é uma boa solução de longo prazo?

O grande problema do cadastro não está no fantástico questionário que o acompanha, com muro de século perguntas além dos suplementos para casos específicos. O duelo é que as informações só são atualizadas a cada dois anos e são exclusivamente vindas da autodeclaração. Nesse formato, mormente para quem está na informalidade, a verdade da maioria, a renda pode ser facilmente subdeclarada.

Esse problema não ocorre exclusivamente no Brasil, afeta praticamente todos os países de renda baixa e média com um setor informal grande.

Resolver esse problema é uma das grandes preocupações do Prêmio Nobel de Economia Abhijit Banerjee, que reconhece essa questão como uma das principais a serem sanadas na política social atual. Ele também reconhece que não existe uma solução fácil, mas faz uma série de boas recomendações em item publicado em 2024 junto a outros autores.

Primeiro, a mensuração da vulnerabilidade das famílias não deve ser feita considerando exclusivamente a renda declarada no momento da entrevista, mas também outros indicadores e variáveis do cadastro, a chamada proxy means. Em outras palavras, se temos mais de século informações sobre a família, qual o motivo de considerarmos a elegibilidade para a política social exclusivamente com a renda declarada em um dos campos? Realizar esse ajuste é barato.

Segundo, o responsável recomenda encontrarmos uma solução para que as informações do cadastro sejam de melhor qualidade, com visitas domiciliares no momento da enunciação e atualizações mais frequentes, o que requer esforço e recursos.

Terceiro, o economista sugere técnicas de focalização espacial, com base em mapas de pobreza. A partir de dados administrativos, o Brasil já tem indicações de quais áreas e municípios apresentam mais pobreza do que outras, o que poderia ser um balizador na distribuição de benefícios pelo país. Isso também é barato.

Por término, mas não menos importante, ele destaca a utilização, em soma à enunciação, de informações administrativas tempestivas, uma forma mais barata de medir a pobreza e que considera a volatilidade da renda ao longo do tempo –em alguns países são o gasto com vigor elétrica ou com telefonia celular. Também é uma selecção de grave dispêndio.

Apesar de ter nos servido tão muito nos últimos 20 anos, já temos indicações claras dos caminhos para o aperfeiçoamento necessário do cadastro e do seu uso. Em privado, podemos ser vanguarda no aprimoramento da política social em um contexto de subida volatilidade dos mais vulneráveis. Não percamos essa chance.


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