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O etarismo a escanteio – 22/02/2025 – Juca Kfouri

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Cristiano Ronaldo acaba de completar 40 anos, não para de fazer gols e segue contando.

Hulk completará 39 em julho, não para de fazer gols e segue contando.

O português buscou refresco no calorento mundo arábico e está perto de chegar aos 930 gols, um espanto.

O brasiliano não tem férias. Carrega pedras por cá mesmo e vira e mexe salva o Atlético Mineiro, principal jogador do time e marcha para 450 tentos.

Não comparemos, rara leitora e vasqueiro leitor, um com outro.

O CR7 nasceu privilegiado por DNA fabuloso e cuida de aperfeiçoá-lo diariamente, sem renunciar aos prazeres da riqueza acumulada — e sem perder o foco no ofício principal, jogar futebol.

O incrível Hulk tornou ficção em verdade. Também não se descuida do físico que trouxe do princípio.

Ambos os dois, porquê diria Luís Vaz de Camões, riem na face dos preconceituosos etaristas que gostam de expressar que fulano não tem mais idade para jogar esfera, que sicrano deveria parar de trovar ou que beltrano devia se reformar da vida política ou empresarial. São os modernamente chamados de sommeliers de idade.

Tantos são os velhinhos aos quais a humanidade agradece que faltaria espaço para nomeá-los.

Que tal, LeBron James, aos 40?

Bastaria referir um, Nelson Mandela, presidente da África do Sul aos 75 anos, depois de passar 27 em injusta prisão.

Você poderá expressar que o cárcere o preservou das preocupações do dia a dia e há quem diga que a calabouço preserva.

Pois eis que Gilberto Gil e Caetano Veloso têm 82, Edu Lobo, 81, Chico Buarque de Holanda, 80. Qualquer óbice?

Por obséquio, não venha com os 43 dias de prisão da dupla baiana com assentimento do ditador de plantão no Brasil, Artur da Costa e Silva, ainda antes de completar 70. A quarentena dos dois gênios da raça serviu exclusivamente para envelhecê-los, tamanha a velhacaria do general —na flor da idade para os padrões atuais.

Fenômenos porquê Cristiano Ronaldo e Hulk são cada vez mais comuns e muito antes deles, em 1962, Nilton Santos, a Enciclopédia do Futebol, foi bicampeão mundial, aos 37, pela seleção brasileira no Chile.

Só Dino Zoff, aos 40, em 1982, na Espanha, o supera e você, se estiver em dia de espírito de porco, poderá objetar com o vestimenta de o italiano ser goleiro, enquanto o brasiliano era lateral-esquerdo.

Pois pergunte ao nosso rebelde zagueiro Oscar o que ele tem a expressar sobre os reflexos de Zoff ao pegar, nos derradeiros minutos, sua possante cabeçada no quina plebeu que valeria o 3 a 3 e a classificação na chamada Tragédia de Sarriá.

Não dê a estas mal-traçadas linhas a intenção subliminar de tutelar eventual reeleição de Lula, 79, muito menos de ser em razão própria, quase 75.

Muita chuva haverá de passar pela ponte, muita lenha haverá de ser queimada e Nelson Rodrigues tinha toda razão na mensagem dele aos jovens: “Envelheçam!”, aconselhou o Querubim Pornográfico.

E olhe que Rodrigues morreu moço, aos 68, não sem antes grafar que “O jovem tem todos os defeitos do adulto e mais um: o da inexperiência”.

Lembre-se disso ao transpor a deliciosa fronteira dos 50.

Outro obséquio: não acuse a pilastra do cometimento de “etarismo revirado”.

Até porque a melhor invenção do mundo são as netas.

Que Cristiano Ronaldo chegue aos 1000 gols e Hulk aos 500.


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