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Katy Perry, fazer turismo espacial é muito cafona – 20/04/2025 – Titi Müller

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Ninguém deveria ser bilionário. O que fazem os bilionários? Bilionários não pagam impostos justos. Bilionários lavam numerário com obras de arte. Bilionários acumulam o PIB de países inteiros. Bilionários produzem pegadas de carbono infinitamente maiores do que não exclusivamente um cidadão geral, mas também do que os milionários.

Bilionários eram muito raros até uma ou duas décadas detrás e agora estão se multiplicando de forma assustadora, e com consequências nefastas para todos os demais habitantes do planeta. É muito poder concentrado na mão de pouca gente.

Ainda que seus números estejam aumentando, os bilionários ainda representam a menor das minorias. O problema é que uma minoria que concentra muitos recursos é uma minoria que manda e desmanda no mundo. Que faz o que muito entender. E é aí que os problemas começam.

Na minha opinião, bilionários não deveriam subsistir, ponto final. Até porque, entre os bilhões de coisas horrorosas que eles fazem, os bilionários agora dão rolê na estratosfera.

Um dos acontecimentos que mais gerou cliques e comentários nesta semana foi a viagem da New Shepard, um foguete da empresa de turismo espacial Blue Origin, do bilionário Jeff Bezos, possuinte da Amazon, que levou ao espaço, para um passeio de 11 minutos, uma tripulação composta exclusivamente por mulheres.

Entre jornalistas, ativistas, cientistas e até a prometida de Bezos, estava a estrela do pop Katy Perry, que cantou o clássico “What a Wonderful World” enquanto estava no ar e beijou o soalho logo que chegou à Terreno.

Katy –e as demais envolvidas– exaltaram o feito histórico, principalmente para as mulheres. A última vez que uma tripulação exclusivamente feminina havia sido lançada ao espaço foi em 1963, quando a russa Valentina Tereshkova esteve no comando da Vostok 6.

À primeira vista, pode mesmo parecer um grande progressão. Mas um olhar um pouco mais detalhado sobre o objecto pode revelar que nem tudo é o que parece.

Para debutar, a empresa de Bezos está usando a bandeira do feminismo não exatamente para empoderar mulheres, e sim para popularizar o turismo espacial –essa novidade modalidade exclusiva para os muito ricos (um voo na New Shepard custa murado de US$ 150 milénio, quase R$ 900 milénio, para cada passageiro).

Em segundo lugar, enquanto o planeta ainda sofre com guerras e miséria e começa a mourejar com os efeitos cada vez mais severos das mudanças climáticas, será que realmente precisamos destinar bilhões de dólares em tecnologia e propaganda para que uma minoria privilegiada possa gozar de alguns minutos a bordo de uma espaçonave?

Para fechar, qual o sentido de trovar lindos versos para o nosso planeta e beijá-lo ao retornar em seguida evacuar gases e partículas na atmosfera capazes de produzir um impacto climatológico até 100 vezes maior do que um passageiro de um avião mercantil?

No termo das contas, a única coisa positiva nisso tudo é provocar o debate, que talvez nos traga uma resposta mais definitiva: quem é realmente responsável pelo estado das coisas? Eu e você ou um punhado de trilhardários brincando de Deus?

Titi Müller é apresentadora, podcaster, locutora, roteirista e turista profissional. Ex-VJ da MTV, é uma curiosa sobre cultura e comportamento humano



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