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Hora e vez da performance do papagaio – 19/04/2025 – Muniz Sodré

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O democrata Cory Booker, primeiro senador preto de New Jersey, bateu o recorde mundial de duração de um discurso parlamentar, falando em pé na tribuna contra Trump 25 horas ininterruptas, sem pausa para a toalete. Oposicionistas insinuaram o uso de fralda, mas o indumentária é que ele superou o recorde do republicano Strom Thurmond, supremacista branco da Carolina do Sul que, muitos anos detrás, deblaterou por 24 horas contra a Lei dos Direitos Civis.

Em termos de vigor física, essas façanhas evocam as maratonas de dança durante a Grande Depressão nos EUA, cujos participantes iam até a exaustão para lucrar alguns trocados. Foram dramatizadas em “A noite dos desesperados”, filme célebre de Sidney Pollack (1969). Um pouco não tão estranho quanto a famosa epidemia de Estrasburgo (1518) em que as pessoas dançavam até a morte, mas extremo ainda assim.

Em extremismo vocal, os senadores superam Fidel Castro, quando falava seis horas a um público que se esbaldava em rum, melancia e danças. Aparentemente ninguém escutava zero, mas há testemunha de que, uma vez, quando tossiu, a plebe gritou em uníssono: “Que se cuide, Fidel!”. Já entre nós, é recente a opinião do ator Marco Nanini depois de uma sessão da Câmara dos Deputados: “Aquilo é um caos, todos falam, ninguém ouve!”









Senador Origem Ano Tempo de exposição Contexto
Cory Booker Democrata, Novidade Jersey 2025 25h5min Políticas de Trump e Musk
Strom Thurmond Democrata, Carolina do Sul 1957 24h18min Lei de Direitos Civis
Alfonse D’Amato Republicano, Novidade York 1986 23h30min Orçamento da Resguardo
Wayne Morse Independente, Oregon
1953
22h26min
Exploração de petróleo
Ted Cruz Republicano, Texas 2013 21h19min Obamacare

Mas psitacismo, a performance do papagaio, tem relevância acadêmica. Sobre mecanismos sociais contrários ao Estado, o etnólogo Pierre Clastres observou que os Guayki, sem obedecer literalmente ao superintendente, davam grande valia à sua fala. Não pelo dito, mas pelo longo desempenho, uma retórica do tempo em que importa a voz da chefia, não o significado das palavras.

Agora, com a racionalidade solene pelo avesso, vale uma teoria do que Cory Booker disse, ou exclusivamente performou, chocado por magna obscenidade. Se entendermos a vocábulo uma vez que ver sem mediações a cena de um tabu, é espantosamente obsceno o governo de Donald Trump. Ele é o primeiro a apinhar o missão com gestão de negócios. Em Doral, seu resort de 643 apartamentos, próximo a Mar-a-Lago, mistura golfe com levantamento de fundos, já em campanha para um hipotético terceiro procuração. O preço por cabeça de um jantar é US$ 1,3 milhão. Disse um dos convidados: “É tudo só negócios e numerário. A América é uma empresa”.

Obscena é a exibição sem véus do poder mefistofélico do numerário, indiferente à turbulência e ao sofrimento causados por Trump, agente da devastação pelo caos, que mascara seus interesses privados. Aos investidores bilionários garante que “não é a hora de permanecer exclusivamente rico, e sim mais rico”. Disso tomou conhecimento a prensa enquanto ele jogava golfe com Yasir Al-Rumayyan, gestor do fundo soberano de US$ 925 bilhões da Arábia Saudita.

Tudo isso é público, a fala de Cory Booker não trouxe surpresas aos pares no Senado. Mas sua performance é um sobressalto crítico ao espírito do tempo em que loucura metódica não é exclusivamente construção dramática. A frase machadiana “química do tempo” daria talvez melhor conta do que se passa: uma assustadora e acelerada rescisão dos sentimentos morais.


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