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Henry James e a receita do muito viver: desvelo! – 12/03/2025 – Sérgio Rodrigues

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“Só existe uma receita: ter o maior desvelo na hora de cozinhar”, receitou Henry James (1843-1916), responsável de “A Volta do Parafuso”, falando do ortografar.

Uma vez que muitas vezes ocorre na escrita metalinguística, do qual objeto é gravisco, é por metáfora que o noticiarista americano mais britânico da história chega à iluminação.

Enquanto isso, penso cá comigo que a imagem da culinária e seus cuidados continua a funcionar quando expandida além da escrita. Ou será que não?

Na vida, todo mundo sabe, receitas são importantes uma vez que repertório, mas não ensinam o mais fundamental sobre cozinhar (viver), aquilo que cada um deve aprender por si.

Por si, sozinho, assumindo suas barras. Não é por ser tudo tão individual que seríamos incapazes de conversar, é simples. A linguagem não nos deixa sós. Basta trocar o faça-assim das receitas por um papo franco sobre os fundamentos —aquilo que é melhor saber, se estamos diante de um fogão.

Primeiro, para não atear queimação à roupa. Depois, para ir se virando. O que pede queimação plebeu e o que exige uma labareda poderoso? Quando é que o paixão aperta, quando é que afrouxa?

Quanto tempo se deve deixar a músculos marinando —e o frango, e o peixe? Depende, mas para assar na brasa basta jogar sobre todos um punhado de sal grosso. Perdoar uma ofensa é desativar seu veneno.

De posse de conhecimentos básicos uma vez que esses, e fazendo escolhas de maneira informada nas bifurcações que vão se abrindo ao longo da viagem, cada pessoa chega a um sorte único.

Os pratos que saem da megacozinha universal são exponencialmente mais variados do que os já pululantes estilos culinários existentes na Terreno. E sempre haverá espaço para a invenção —perdão maior da coisa.

No entanto, nenhum trajectória individual, por mais original e excêntrico, nunca abolirá os fatos universais de que lâminas de alho fritas um tiquinho além da conta viram carvão, e terçar fora do sinal uma rua movimentada sem olhar para os lados pode levar à morte por atropelamento.

Sim, o macarrão atirado na panela antes da fervura fica grudento, enquanto o cérebro exposto a muitas horas diárias de rede social começa a apodrecer.

Alguns vitualhas devem ser descongelados na geladeira, lentamente; outros, a jato no micro-ondas. O corpo humano pede movimento metódico, uma forma de velocidade, para envelhecer mais vagarosamente.

Receitas de pratos específicos, metas, carreiras, exemplos biográficos são no sumo roteiros de viagem, boias na trevas —parâmetros para facilitar cada um a fazer suas escolhas.

Henry James escreveu também que “a única obrigação que de antemão podemos exigir de um romance, sem incorrer na arguição de sermos arbitrários, é que seja interessante”.

Continuará valendo até cá a metáfora? Simples que um romance deve ser interessante para o leitor, mas para quem seria desejável que uma vida humana pudesse ser descrita assim? Para a própria pessoa que a vive, talvez? Só se for.

As escolhas, estas, vão ser sempre de cada um. Que a gente saiba ao menos tocá-las na direção do saber e do sabor, esses parentes etimológicos deliciosos.


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