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Epidemia de gênero – 16/03/2025 – Ana Cristina Rosa

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Uma epidemia de gênero vem vitimando a população feminina do Brasil. O problema é muito sério e tem se agravado a cada ano, fazendo da violência contra a mulher uma das violações de direitos humanos mais recorrentes.

Mais de 21 milhões de brasileiras sofreram alguma agressão nos últimos 12 meses (Datafolha). O número representa 37,5% das nossas meninas e mulheres, segundo a pesquisa “Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil”, encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

O “menu” de agressões detectadas inclui chutes, socos, empurrões, xingamentos, perseguição, relações sexuais forçadas, estrangulamento, esfaqueamento, tiros e, nos casos mais extremos, a morte. Em grande secção dos casos, a violência se dá dentro de mansão, pelas mãos de maridos, companheiros, namorados, pais, tios e até filhos.

A situação é complexa, pois envolve uma gama de fatores econômicos, sociais e ambientais que podem servir para encorajar um varão a tratar violentamente uma mulher. Nunca é demais lembrar que as negras são as maiores vítimas desse tipo de violência. Particularmente, creio que a má ensino e os costumes machistas sejam os elementos mais impactantes numa sociedade misógina e racista. Há, também, razões históricas.

Até muito pouco tempo detrás, as mulheres eram submetidas a restrições que as mantinham legalmente sob o tirania masculino, uma vez que a premência de autorização do marido para trabalhar ou para frequentar a universidade. A paridade de gênero no Brasil foi assegurada só em 1988, com a promulgação da Constituição. E, ainda assim, na prática temos unicamente uma paridade formal.

Num cenário de objetificação dos corpos femininos, o papel reservado à mulher na sociedade brasileira foi sintetizado com muita propriedade pela filósofa Lélia Gonzalez, que resumiu assim: “branca para matrimoniar, mulata para fornicar, negra para trabalhar.” Os dados sobre a violência contra a mulher sugerem que, na cabeça de muitos homens, está também a teoria “todas passíveis de violentar”. Aterrorizante.


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