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Elites são caricatura – 21/04/2025 – Michael França

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Em salões decorados com obras que ninguém sabe explicar e restaurantes onde o nome do chef vale mais que o sabor da comida servida, uma segmento da escol brasileira cultua não a vantagem, mas a fisionomia de vantagem.

Entre uma taça de vinho importado e uma conversa sobre o novo destino internacional, perpetua-se uma miragem de que seu modo de vida é superior. Um padrão a ser seguido. Uma espécie de cultura paralela onde o status substitui a substância e o patrimônio serve à vaidade.

Esse viés de classe travestido de bom sabor não é inofensivo. Ao considerar suas preferências culturais, estéticas e comportamentais porquê universais e sinônimos de sofisticação, essa parcela da escol brasileira não unicamente ignora o multiculturalismo do país, porquê empobrece seu próprio repertório.

O resultado são pessoas que se julgam refinadas e educadas, mas são intelectualmente rasas. Pessoas que se julgam cidadãs do mundo, mas são domesticamente alienadas. Pessoas que se julgam livres, mas estão fortemente acorrentadas ao olhar do outro.

Junta-se a isso o luminar ao acúmulo material, ao networking performático, onde as interações sociais funcionam mais porquê uma coreografia sintético do que a constituição de uma troca genuína, as condecorações de participação distribuídas no teatro da eminência e os diversos selos de validação que alimentam a dança da exclusão.

Nesse universo privado, a vida transforma-se em uma grande vitrine. A existência passa a ser medida por métricas externas e não pelas convicções internas. Vive-se para ser visto, autenticado e aplaudido. O íntimo desaparece, substituído por uma persona cuidadosamente construída, mas essencialmente frágil.

Sim, frágil. Pois há um tanto profundamente decadente nessa lógica, visto que o narcisismo de classe nunca foi um sinal de força, mas um sintoma de fragilidade. É o incômodo de estar deixando de ser o meio das atenções. É a instabilidade disfarçada de elegância. É também a tentativa desesperada de imortalizar um modo de vida cada vez mais questionado, cada vez mais só, cada vez mais vazio.

Outrossim, o problema é que esse narcisismo de classe está recluso a uma visão curta e autorreferente. Ao projetar sua imagem porquê padrão, essas elites esquecem que estão olhando para um espelho, não para um país. Não veem as contradições da própria trajetória, nem reconhecem os atalhos que lhe foram oferecidos.

Há, nesse imaginário de grandeza, uma recusa sistemática ao desconforto da divergência humana. O outro… Aquele mais pobre, aquele mais escuro, aquele mais periférico… torna-se não um interlocutor, mas um problema a ser dirigido, quando não manipulado.

Essa autoidolatria compromete o que deveria ser o verdadeiro papel das elites em sociedades democráticas, ou seja, o de pensar o país para além de si mesmas. Quando tudo gira em torno da própria imagem, não há espaço para a escuta, para o tirocínio coletivo, e muito menos, para a autocrítica.

A escol, portanto, deixa de ser liderança para se tornar uma caricatura. Um mundinho privado que se embriaga com seu próprio exposição, enquanto o mundo real pulsa lá fora com demandas que ela não sabe mais interpretar.

Essa pilar é a segunda da série que tenho feito sobre os desafios das elites. Outrossim, é uma homenagem à música Gentleman, de Fela Kuti.


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