Esporte
Ed Motta, sério? Estrebuchar Maria Bethânia por não tocar piano – 18/03/2025 – Rosana Hermann
São Paulo
No sábado pretérito (15), Maria Bethânia interrompeu o solo de “As Canções que Você Fez para Mim” na Farmasi Estádio por falhas técnicas. Irritada, disse que não tinha mais porquê trovar.
Pediu saudação e avisou que chamaria o irmão, Caetano Veloso, com quem divide a turnê, para fechar a apresentação. Diante da bronca na equipe, o público aplaudiu e apoiou a artista.
No dia seguinte, depois de ver o vídeo dessa cena, o cantor e compositor Ed Motta fez uma publicação em uma rede social criticando a reação do público, a prensa brasileira e Bethânia, mas sem falar seu nome.
Motta disse que estava presenciando “uma famosa cantora da música brasileira” com um problema no palco, que é “recorrente na curso dela e é sabido a forma com que ela trata os músicos e os colaboradores todos e tal”, sem explicar que forma seria essa.
Em seguida, comenta que nunca teve nenhum problema com seus músicos, a não ser por um incidente infeliz com uma pessoa que “não era seu funcionário, que estava em teste e tinha cometido um erro crasso”.
O caso a que ele se refere aconteceu no Rock the Mountain em 2024, quando Motta demitiu um rapaz ao vivo no palco e foi vaiado pela plateia. E esse parece ser o foco do ressentimento. Para Ed, quando ele reclama, o público xinga e a prensa o persegue. E quando Bethânia reclama, o público a aplaude e a prensa a apoia. Entendo o sentimento de injustiça envolvido, mas Bethânia reclamou de forma genérica, enquanto Ed humilhou o rapaz na frente de todos. É muito dissemelhante.
O problema maior, no entanto, vem a seguir. Num tom de deboche, ele imita a plateia que gritou para Bethânia as palavras “maravilhosa, necessária”, dizendo: “uma pessoa que não sabe tocar nem piano, né, não sabe tocar um piano, não sabe simetria, não estudou música, zero. Eu sei tocar piano, eu estudei música, mas infelizmente não tenho o saudação necessário do país do feijoeiro e do futebol”.
Oi? Uma vez que assim, Ed Motta? Maria Bethânia não merece ser chamada de maravilhosa e necessária porque não estudou música e não sabe tocar piano? Pois eu achei muito incoerente esse raciocínio, porque num vídeo do ano pretérito você repete sete vezes que qualquer um, sem exceção, que ouve hip hop, é néscio. E que quem é inteligente ouve música clássica e jazz.
Ok, jazz é realmente maravilhoso. Mas se cantora tem que saber tocar piano, o que proferir da rainha do jazz Ella Fitzgerald e da lendária Billie Holiday? Uma vez que você certamente sabe, Ella nunca estudou música formalmente nem tocava piano. Billie, de origem humilde, não tocava nenhum instrumento nem sabia ler partituras. E por isso elas não podem ser chamadas de necessárias e maravilhosas?
Eu entendo, Ed, que você se revolte por não ter o reconhecimento que você julga merecer, que se sinta perseguido e cancelado por secção do público e da prensa. Mas pode ter sido você que construiu tudo isso. Chamando de néscio quem gosta de hip hop. Xingando Raul Seixas, Caetano Veloso e o rock brasílico em universal.
Criticando Ivete Sangalo e Criolo por cantarem Tim Maia. Humilhando um colaborador no palco. Dizendo que só o sul do Brasil é bom porque tem “frutas vermelhas, clima indiferente e gente formosa”.
Que o povo brasílico é mal-parecido. Eu sei, muitas vezes você pediu desculpas depois, alegou que sua cabeça é “lotada de revoltas, paranoias, sofreguidão, depressão”. Pois portanto se trate. Melhore. Seja no Brasil ou na Europa, onde você não fala português nos shows e tem um público mais instruído, porquê você diz.
Eu não sei tocar piano nem tenho a fórmula do sucesso para escravizar o público. Mas tenho certeza que não é chamando o povo de mal-parecido, néscio, simplório, inculto e fraco da cabeça que você vai invadir o carinho da plateia.
Viva Bethânia. Viva Caetano. Viva o povo brasílico!