O futebol costuma zombar de nossa racionalidade e de nossa pretensa sabedoria. Apesar de tantas atuações e resultados improváveis, as derrotas dos favoritos ainda provocam grandes surpresas e enormes críticas, uma vez que se os melhores não perdessem nem jogassem mal. Por razão dos altos investimentos e dos estádios lotados, torcedores e comentaristas acham que os times brasileiros são melhores do que são.
O Flamengo, depois de 27 jogos invicto, jogou mal e perdeu por 2 a 1 para o Médio Córdoba, da Argentina. Foi uma surpresa, porém outras derrotas vão ocorrer. O Flamengo, completo, possui um ótimo time, mas não é tão superior aos outros. O elenco é bom, mas nem tanto. Faltam, do meio para a frente, reservas de nível próximo ao dos titulares.
O Cruzeiro, mesmo em formação, é superior ao incógnito time Mushuc Runa, do Equador, porém não foi tão surpreendente a guião. O presidente do clube e o treinador admitiram que o nível técnico da equipe está muito aquém da expectativa dos torcedores e da prensa.
Inter e Atlético Pátrio, da Colômbia, fizeram uma óptimo partida. Não foi surpresa. O Inter, até o momento, é o time que tem jogado de maneira melhor na Libertadores, e o competidor, das partidas que vi, foi o melhor entre as outras equipes sul-americanas. O jogo foi equilibrado até a expulsão do jogador do Atlético, quando o placar apontava 1 a 0 para o Inter. A partir daí, ficou fácil chegar aos 3 a 0. O ótimo meia Alan Patrick fez os três gols, sendo dois de pênalti.
O Palmeiras está muito tenso, sempre à espera de grandes partidas. A cobrança da torcida é exagerada. Lucrar do Cerro Porteño por 1 a 0 não foi surpresa. O time não encanta, mas geralmente ganha por razão do estabilidade, da consistência e da qualidade técnica. A equipe joga cada partida uma vez que se fosse a última.
Os vibrantes torcedores do São Paulo ainda não se acostumaram com os pontos perdidos quando o time joga no Morumbis. O time é bom, mas nem tanto, ainda mais com as ausências de Oscar e Lucas Moura. Não foi tão surpreendente mais um empate em morada.
Deveríamos nos avezar mais com as atuações sem fulgor e com as derrotas inesperadas. A vitória do Arsenal em morada sobre o Real Madrid não foi surpresa, mas o placar de 3 a 0 não era esperado. Zero está sentenciado. O Real tem muitas esperanças nas recentes viradas históricas, e o Arsenal está preocupado com essa mistura de mistério e de qualidade técnica do time espanhol.
Depois das contratações dos excepcionais Mbappé e Bellingham, o Real formou um quarteto ofensivo fantástico que tem sentenciado muitos jogos. Mas o time anterior, com um trio no meio-campo (Casemiro, Modric e Kroos) e outro trio no ataque (Vini, Rodrygo e Benzema) era mais equilibrado e tão ou mais eficiente. A resguardo era mais protegida, e a equipe tinha mais o domínio da globo no meio-campo.
Hoje, o melhor time do mundo, que mais ganha e fascina, é o Barcelona, com seis jogadores excepcionais do meio para a frente, três no meio campo e três no ataque, próximos, que se entendem muito muito. Os quatro defensores marcam no meio-campo e também estão perto dos outros seis. É uma lição de compactação, com riscos que valem a pena. Assim uma vez que viver, encantar é perigoso.