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Corrida e Carnaval: quando a gente se liberta do carro – 04/03/2025 – No Corre

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Eu estava no meio da muvuca que seguia a Charanga do França nesta segunda-feira (3), em Santa Cecília, e, detrás de mim, um ambulante vendia Kiro, uma bebida gaseificada deliciosa feita com gengibre, suco de maçã e outros ingredientes.

Era quase uma desfeita diante do mar de cerveja e xeque mate (rum diluído em limão e chá mate, principalmente) ofertado pelos ambulantes, além dos outros birináites trazidos pelos próprios foliões.

A história corporativa da Kiro, mistura que é chamada de switchel e posicionada por seus criadores uma vez que bebida “para adultos sem álcool“, vale ser conhecida, porque é contra o hábito cultural, arraigadíssimo, de se consumir bebidas alcoólicas a todo momento, “na alegria e na tristeza”, uma vez que diz Roberto Meirelles, um dos fundadores da marca, que a Kiro quixotescamente se voltou.

O ambulante no meio da Charanga provavelmente escolheu um bordão ruim, o que deve ter dificultado ainda mais a desova das latinhas. Ele dizia: “Olha a salada”.

Comparo o Carnaval de rua, que em São Paulo ainda está em seus cueiros, mas que já começa a gerar relação profunda com as novas gerações –minhas filhas que o digam–, com aquilo que é para mim um dos efeitos mais positivos da corrida. Ao percorrer, aproveitamos a cidade, fazemos dela alguma coisa realmente desfrutável. Em patente sentido, a conquistamos.

Você pode expressar que isso também é verosímil ao passearmos com o cachorro ou ao darmos uma orquestra de bike –aceito o argumento. Mas a corrida, já o disse cá, faculta que ganhemos cada vez mais autonomia. Em vez de ir de carruagem a um parque, o que me parece um contrassenso, a atividade permite que, mais do que o parque, o deslocamento até ele já seja usufruído, faça secção da folgança.

Mas me perco um pouco cá. O que queria expressar é que o Carnaval, e a ocupação das ruas pelas pessoas, é em patente sentido uma libertação da vexame do carro, levante sim protagonista das metrópoles brasileiras, que para ele foram efetiva e infelizmente pensadas.

Lembro quando fui pela primeira vez em noite útil ao Minhocão, e me surpreendi com o velho saliente ocupado, fervendo, muita gente ali oriunda dos edifícios do entorno, totalmente carentes de espaços de lazer. Numa chave completamente insana, visualizei alguma coisa uma vez que o dia depois da hecatombe –sem máquinas, as pessoas tomavam as ruas.

A despeito do tom de ficção científica, era uma visão, uma vez que se diz agora, potente.

Por termo, lamento que os foliões sintam urgência de encher a rosto. Para mim é mais do que suficiente juntar-se com outros milhares de carnavalescos a dançar e a pular marchinhas, sambas e axé, gênero imune ao descaramento e à negatividade (experimente levante verso: “Hoje sou feliz e quina/ Só por razão de você)”. Ainda mais pela manhã, em que deve ou deveria possuir uma barreira psicológica e moral à biritagem.

Talvez boa secção dos foliões ainda não tenha ladino de verdade a endorfina. Embora a combinação de corrida com cerveja não seja assim tão extravagante, tá de ótimo tamanho se a gente permanecer, uma vez que diz outra orquestra lá da Bahia, na chuva mineral.

Ou no switchel.


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