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Cobertura da violência de gênero e a tendência ‘antidiversidade’ – 08/03/2025 – Alexandra Moraes – Ombudsman

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A Folha abriu as comemorações do Dia da Mulher promovendo o item de um urologista sobre sua pasmo pelas mulheres e a premência de “expulsar desigualdades de gênero”.

Por óbvio não se coloca cá em questão a vantagem, amplamente reconhecida, do profissional em sua superfície nem a qualidade de sua intenção, mas a escolha do jornal em destacá-lo quase sozinho —o que, se não o é, soa a provocação caricata. Em peculiar num momento em que sopram ventos contrários à teoria de promoção de uma paridade que, por vias naturais, nunca chegou a se concretizar.

A surpresa foi a opção de dar menos ou nenhum espaço a colunistas mulheres que tratavam, na mesma edição, de preconceito e desigualdade, em obséquio da termo de esteio masculina. Esta certamente é não somente desejável mas também necessária. Não deixa de ser irônico, porém, escolhê-la uma vez que destaque em prejuízo de autoras que falavam dos mesmos temas.

Faz tempo que o jornal incorporou a cobertura de temas de gênero em seu dia a dia, portanto o mau passo na véspera do 8 de Março não deve simbolizar um grande problema. O que o incidente talvez indique é que, uma vez que o resto do mundo, a Folha pode estar vulnerável à tendência “antidiversidade” que emana dos EUA e dos fóruns sobretudo masculinos de uma direita extrema e chiliquenta.

É preciso zelo. Mesmo antes disso, obituários reiteradamente mal editados já haviam feito estrago na maneira uma vez que o jornal retrata mulheres.

O caminho para o 8 de Março também não foi poupado da epidemia de feminicídios e de sua cobertura insuficiente. Os jornais registram com maior frequência esses crimes, mas não tem havido muita evolução na qualidade desses relatos. Não é vasqueiro que se limitem a repetir boletins policiais, sem história nem contexto.

O caso de Elaine Domenes de Castro, 53, é um deles. Ela foi morta a algumas quadras da Folha, na frente da morada onde morava com os filhos, no bairro dos Campos Elíseos, região meão de São Paulo.

Foi o portal Metrópoles, porém, que contou melhor a história da morte de Elaine, que “era cozinheira e deixou três filhos, sendo o mais novo de 15 anos”. Segundo o site, “Elaine manteve um relacionamento de um ano com Rogério. Em 9 de setembro do ano pretérito, registrou um boletim afirmando que ele demonstrou ser muito ciumento, possessivo e que costumava acusá-la injustamente de ter outros relacionamentos amorosos”.

Já o G1 narrava o histórico do suspeito, contra quem o primeiro registro por agressão teria sido feito ainda em 1989. Sua ficha dizia bastante sobre a trivialidade da agressão às mulheres no Brasil. De combinação com o G1, ele havia matado outra companheira em 2005. Foi recluso em 2007, sentenciado a 12 anos de prisão em 2011 e recebeu o favor do semiaberto no ano seguinte. Em 2015, estava no regime desobstruído.

Ana Carolina Pereira de Santana, Amanda Teixeira Araújo, Aline Cristina Giamogeschi, Maria Gabriella Nunes, Vanessa Ricarte, “jovens de 17 e 18 anos“… Essas foram outras vítimas cujos casos tiveram registro na Folha nos últimos 30 dias, mas o jornal não conseguiu descrever recta a história de nenhuma dessas mulheres.

Na última semana, o caso em evidência foi o de Vitória Regina Sousa, de 17 anos, em Cajamar (SP). Não há nos relatos sobre ele nenhuma menção a feminicídio. Se a polícia não trata o transgressão uma vez que tal, seria importante explicar o motivo. O tipo de justiçamento a que a rapariga teria sido submetida, com ou sem participação de facções criminosas, parece revelar aspectos de gênero: “A jovem morta foi encontrada sem roupas —somente com um sutiã na profundeza do pescoço—, com o cabelo raspado e degolada”. O nível é do Talibã.

A questão cá é uma vez que, do ponto de vista editorial, tratar esses casos em sua complicação tanto uma vez que histórias pessoais quanto uma vez que sintomas reiterados de uma sociedade embebida em violência e em misoginia.

É frequente, ainda, a falta de destaque ao contexto de alta desses crimes. Nos dez anos da Lei do Feminicídio, é importante notar que, embora insuficiente para frear esse tipo de agressão, a iniciativa ao menos deu a ele um nome e uma estatística próprios. Recentemente, outra reformulação impôs penas ainda maiores. Mas o que os casos têm mostrado é que a lei, sozinha, não basta.

Se os números e os casos são assustadores, o grave envolvimento e a baixa cobrança das autoridades também o são. Nos casos de São Paulo, a Folha tinha outro ponto importante de contexto subutilizado: uma reportagem recente sobre a falta crônica de verba para a secretaria estadual de políticas para a mulher, comandada por Valéria Bolsonaro na gestão Tarcísio de Freitas. Relatar as histórias do feminicídio envolve também juntar essas peças.


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