Meu Instagram, tão treinado para me mostrar coisas de comida e humor demencial, jogou do zero o vídeo de um fulano tirando sangue do braço com uma seringa. Seria proclamação do laboratório de análises clínicas?
Aí abre o enquadramento, e percebe-se que a situação se desenrola numa cozinha.
Por termo, descobrimos que o doador de sangue –o espanhol Raúl Escuín, ativista vegano– vai preparar um chouriço com o material tirado de seu corpo.
Ele frita umas cebolas em óleo de coco (o normal seria banha de porco), joga umas especiarias e depois arroz cozido. Fora do queimação, mistura o arroz temperado com o seu sangue e enche um tubo de filme plástico com a mistura.
Raúl cozinha o rolo e tira do plástico um cilindro de morcilla –conhecida em Portugal porquê morcela e, no Brasil, mais comumente porquê chouriço de sangue. Logo frita e come a coisa.
Veganos, porquê deveríamos saber, são mestres da provocação e propaganda. Assim, esqueçamos qualquer provável (e improbabilíssimo) predicado gastronômico do negócio.
Tem uma discussão moral interessante aí.
Raúl apresenta autochouriço porquê uma receita vegana.
Mas podemos interpretá-la porquê comida canibal.
Mais do que isso, autofágica.
Segundo José Miguel Soriano de Castilllo, pesquisador da Universidade de Valência que escreveu um artigo sobre o chouriço canibal, é correto defini-lo porquê vegano. Nenhum bicho sofre qualquer tipo de maltrato, exclusivamente um ligeiro incômodo para a pessoa que resolveu inventar voga.
Pormenor importante para driblar outras sinucas éticas ou legais: no jogo do Raúl, que chegou a oferecer o preparo do chouriço humano a quem se interessasse, cada pessoa só pode consumir o encaixado feito com o próprio sangue.
Não há lei alguma que impeça uma pessoa de lamber a própria ferida ou ingerir seus fluidos corporais.
Melhor parar por cá. Tchau.