Esporte

‘Babygirl’ e a questão do sexo no casório – 17/02/2025 – Vera Iaconelli

Published

on



Porquê se diz por aí, casório é igual a submarino: até flutua, mas foi feito para naufragar.

Desde que ele passou a ser comemorado sobre a areia movediça dos afetos, seu fado se mostra mais incerto. Não há cá, no entanto, qualquer traço de saudosismo dos tempos em que o contrato matrimonial se dava à revelia das partes envolvidas e nos quais os interesses pragmáticos deveriam suplantar os românticos. Ainda assim, é sabido que não há relação afetiva sem certa ração de pragmatismo.

Encontramos nossos pares a partir de coordenadas prévias, tanto conscientes quanto inconscientes, o que faz com que o paixão à primeira vista seja sempre déjà vu.

Entre as questões incontornáveis de qualquer parelha está o indumento de que nossa sexualidade é porquê uma do dedo: única e com pouca margem para mudança. Mas dá para torcer pela sorte de encontrar alguém com quem possamos jogar muito o jogo de conciliar o inconciliável. Dito de outra forma, que tenhamos a sorte de poder gozar ao nosso modo, mas incluindo o outro no nosso “cine privé”. Um pouco porquê ir ao seu restaurante predileto muito muito escoltado e escolher seu prato preposto, reconhecendo que o prazer da músculos, para um, equivale ao dos frutos do mar, para o outro.

Dando um pouco mais de corda a essa metáfora tosca, diria que o suprassumo da relação é quando um consegue sentir prazer em preparar o prato preposto do outro, mesmo que ele não seja fã da iguaria. Ainda assim, o jogo só funciona se cozinhar para o outro fizer secção da fantasia.

Se é impossível transmitir nossa experiência de estar vivo –que dirá o sexo, feito de marcas inconscientes. Que sirva de consolo admitirmos que sequer conseguimos remeter inteiramente nossas experiências para nós mesmos.

Em “Babygirl“, filme-sensação com Nicole Kidman, as fantasias da protagonista de ser “disciplinada” no sexo se chocam com seus próprios valores, levando a duas décadas de encenação de orgasmos dignas de um Oscar. O “D” da {sigla} BDSM –Bondage, Disciplina, Sadismo, Masoquismo– aparece na película de Halina Reijn de forma cosmética, trazendo saudades de filmes porquê “De Olhos Bem Fechados“, de Stanley Kubrick (1999), com a própria Kidman, e “A Secretária”, de Steven Shainberg (2002).

Mas a obra tem o valor de trazer a discussão da insatisfação sexual feminina nos casamentos –onipresente nos divãs– e torná-la palatável para o público em universal. A solução dada na obra, no entanto, é tão simplista quanto crer que basta compartilharmos a fantasia recalcada que o abisso entre nós se resolveria.

Se sua fantasia secreta for levar uns murros ou um jato de urina na rosto, por exemplo, você não demorará a deslindar que nem todo mundo se diverte da mesma maneira. O que, aliás, entre adultos e com consentimento, pode ser uma forma válida de prazer porquê qualquer outra.

Unir paixão, libido, gozo, companheirismo, amizade, assombro e projeto generalidade em uma única relação é tarefa hercúlea, ainda mais porque todas essas condições estão sujeitas a mudar com o tempo.

Saber que estamos navegando em um submarino, e não em um catamarã, talvez seja um bom primícias para reputar a viagem e retardar seu término.


LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul aquém.



Acesse a fonte

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais lidas

Sair da versão mobile