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As superstições na era do dedo – 18/02/2025 – Bia Braune

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Aconteceu num piscar de olhos, literalmente. Um camarada surgiu com a pálpebra inchada uma vez que um boxeur finalizado por nocaute, um pouco que talvez lhe rendesse likes numa comunidade de atletas de término de semana, não fosse ele –meu camarada– exclusivamente um nerd praticante de Wii Sports.

“É terçol”, resmungou, aplicando uma compressa. Ao que retruquei, num jab com a velocidade de cinco séculos de crendices: “E isso lá funciona? Pega uma federação, esfrega na calça e aplica quente no terçol… Mas tem que ser de ouro, tá?”. Pormenor: meu camarada mal pratica a monogamia. Imagine se teria uma federação à mão.

Superstição envolvendo terçol é um pouco digno de nota, sim, vide Ingmar Bergman. Em 1960, o cético cineasta sueco dirigiu “O Olho do Diabo“, comédia baseada numa mística e proverbial ziquizira oftalmológica do capiroto.

De minha segmento, não vejo qualquer paradoxo nisso. Mais do que pálpebras, o truque da federação também aquece coraçõezinhos. Ou seja: atesto e dou fé à tia-avó benzedeira que, se não me habita, pelo menos subloca meu imaginário por pura diversão. A ponto de colecionar manias que nem são minhas.

Relampejou? Corre, cobre espelho. Morreu parente? Idem. A caminho da luz, a última coisa que o fantasma quer ver é se sua rosto tá boa. Contra a chuva que trouxe o relâmpago, o mais jovem da família tem que riscar um Sol, com giz ou caco de telha, botando um punhado de sal no meio. Se serve aquele mesmo sal que foi espalhado à mesa e jogado por cima do ombro esquerdo? Peraí, que vão fincar uma faca no tronco de uma bananeira e já te respondem.

Negócio de não passar por ordinário de escada: eu, hein. Furar guarda-chuva dentro de lar é que não pode, nem trazer valva da praia. Chinelo virado é pai morto, porta de armário ensejo faz a mãe empacotar. Tem coragem de dizimar sua família inteira assim? A afilhada de crisma da vizinha de um colega de trabalho de alguém misturou manga com leite e morreu. Pior: depois ainda varreram o pé da moça e ela não se casou!

“Ai, que bobagem, isso é coisa de velho…”, diz a pessoa que, nas redes sociais, repassa tudo para trocentos amigos. Faz challenge de “primeira foto do ano ou 365 dias de má sorte”, de “última viagem ou nunca mais vai pisar num aeroporto”. Marombou, se curtiu na ateneu? “Se não postar não funciona!” Ou seja: compartilhe sua crendice 2.0 e hashtag #tápago o atestado de pós-jovem supersticioso do dedo. Até porque, estamos de olho, viu?

E um olho helênico, daqueles muito analógicos, para dar sorte já na porta de ingressão.


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