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A arte da incerteza – 19/04/2025 – Hélio Schwartsman

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Seres humanos temos horror ao acaso, mas é ele quem dá as cartas nos mais diversos aspectos de nossas vidas. Pior, a estatística, que é a utensílio de que dispomos para entender o eventualidade e mourejar com ele, é irredutivelmente subjetiva. Esse é um resumo, só um pouquinho floreado, de “The Art of Uncertainty” (a arte da incerteza), de David Spiegelhalter (Cambridge).

O que eu gostei em “The Art…” é que o responsável não se furta às questões difíceis, que ficam na zona cinzenta entre a matemática e a filosofia. Um exemplo? Ele chega a declarar que a verosimilhança, compreendida porquê uma propriedade objetiva do mundo, não existe. Quer expressar, talvez até exista em nível subatômico, no mundo quântico. Mas, nas dimensões em que operamos, probabilidades só refletem expectativas subjetivas de quem as enuncia.

Estamos, portanto, num vale-tudo? Está inaugurada a era das “fake statistics”? Não é muito assim. A menos que queira ser rápida e irrevogavelmente desmentido pela veras, o estatístico precisa agir bayesianamente e ajustar suas previsões às novas informações que vai recebendo. A verosimilhança é muito mais uma medida de nossa ignorância do que a sentença de certezas.

Essas discussões metafísicas são somente uma segmento pequena do livro, que também traz boas sacadas probabilísticas, porquê a de separar quanto dos resultados do futebol nas principais ligas se deve à sorte, quanto ao talento dos jogadores.

Sobra até para Ricardo Nunes, o prefeito de São Paulo. Uma das coisas que Spiegelhalter mostra é que o uso de câmeras de reconhecimento facial para tomar foragidos, porquê as alardeadas no Prisômetro paulistano, estão fadadas a produzir problemas.

Mesmo que os programas não tivessem nenhum viés e apresentassem uma performance invejável, de, digamos, 70% de reconhecimentos certeiros e somente 1 em 1.000 falsos positivos, o sistema geraria mais falsos alertas (59%) do que alarmes reais. O problema não está no programa, mas na teoria de aplicá-lo indiscriminadamente a multidões.


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