Notem que escolhi a termo “churrascada”, não “churrasco”.
Isto porque não quero enaltecer aquilo que o brasílico come no churrasco –tenho implicância, em privado, com o pão de alho referto de margarina e glutamato.
Tampouco vou elogiar o método tradicional de churrasco no Brasil. Zero contra a maminha no espeto, sabor muito. Ocorre que, assim porquê muitos outros brasileiros, eu me inclino mais para o esquema argentino/uruguaio.
A teoria cá é comemorar o evento social do churrasco brasílico. Até onde sei, não existe zero semelhante alhures. É aquela sarau que pode inaugurar antes do meio-dia e entrar pela noite.
Nas gringas –refiro-me à quase totalidade dos países que têm qualquer tipo de culinária de brasa–, o churrasco rendeiro é mais ou menos porquê se faz nos restaurantes.
O churrasqueiro trabalha solitário e uma hora anuncia universal: tá pronto. Aí todo mundo faz seus pratos, senta, come e encerra a repasto.
No Brasil é dissemelhante.
A churrascada brasileira é uma sarau em que a comida sai da grelha o tempo todo. Primeiro o pão de alho das crianças e afoitos. Depois linguiça, coração de penosa, asinha, queijo de coalho.
Quando começam a vir as carnes mais sérias, já há quem esteja quase empanzinado. As picanhas, fraldinhas e afins chegam fatiadas. Uns montam seus pratos com farofa, maionese, vinagrete, o escambau. Outros só vão petiscando em pé, enquanto bebem, conversam e dão risada.
A churrascada brasileira sempre tem aquele sujeito que leva cerveja barata e só toma cerveja mais rosto,
Tem aquele cachorro safado que fica de mutuca, só esperando alguém vacilar com a mesocarpo. No final ele é sempre recompensado com tendões, gorduras e sobras frias.
Tem o rosto que fica dando presciência para o churrasqueiro, mas não ajuda em zero. Tem o churrasqueiro que recusa qualquer ajuda e guarda para si o melhor da grelha, antes de liberar para a galera. Tem a churrasqueira, que pode ser de alvenaria, de lata ou só uns tijolos empilhados no soalho.
Tem o amigo vegetariano que traz brócolis, quiabo e berinjela.
Tem o rés que bebe demais e fica ainda mais rés. Tem o bêbado que dá perda totalidade e vai dormir num esquina da lar.
Tem discussão por justificação da trilha sonora, danças desajeitadas, contação de causos e, quando há espaço, aquele futebol embriagado de que pelo menos um vai trespassar molestado.
Por termo, tem aquela hora em que a turma está satisfeita, o churrasqueiro tira o avental e deixa a brasa esfriar. Aí todo mundo se reúne em volta de uma mesa e vai conversando por horas, até que alguém sugere preparar mais um petisco.
Aí começa tudo de novo.
No Dia do Churrasco, viva a churrascada brasileira!