Quando, pela primeira vez, Donald Trump assumiu a presidência dos Estados Unidos, muitos recorreram à leitura de Hannah Arendt para tentar compreender o que estava acontecendo na política americana.
Foi mal “Origens do Totalitarismo” passou a figurar nas listas de livros mais vendidos de lá, e que trechos dessa obra passaram a ser compartilhados nas redes sociais, motivando debates sobre as consequências políticas da solidão.
Outro texto de Arendt que também despertou o interesse dos leitores, e que merece ser relido no contexto do retorno de Trump à Moradia Branca, foi o tentativa “Verdade e Política”.
Inspirado na controvérsia desencadeada pela publicação de “Eichmann em Jerusalém: Um Relato Sobre a Banalidade do Mal“, quando o testemunho de Arendt sobre o caso Eichmann foi distorcido, “Verdade e Política” propõe uma reflexão sobre o lugar da verdade —principalmente do que a autora labareda de verdade factual— no contextura público, frisando tanto a sua relevância para a preservação da verdade que compartilhamos com outros seres humanos, uma vez que a sua fragilidade na presença de o poder político.
No tentativa, Arendt comenta que verdade e política nunca mantiveram uma boa relação. Assim, ela ressalta, não é de se surpreender que sempre tenhamos visto as mentiras uma vez que “ferramentas necessárias e justificáveis ao ofício não só do político ou do demagogo, uma vez que também do estadista”.
Segundo Arendt, as verdades factuais estão sempre relacionadas a outras pessoas e fazem referência a eventos dos quais muitos participaram. Consequentemente, para que tomemos conhecimento delas, precisamos dos relatos das testemunhas e da sua comprovação. Isso, por sua vez, faz com que as verdades factuais sejam caracterizadas por um elemento de contingência. É esse elemento que faz com que tais verdades sejam mormente frágeis, pois quando a maioria das pessoas desacredita de um veste, ele corre o risco de perder a sua relevância política.
Arendt também destaca a diferença entre as mentiras políticas tradicionais e as suas equivalentes modernas. Para ela, as mentiras tradicionais tinham por meta um inimigo específico e costumavam se referir tanto a segredos que nunca deveriam vir a público quanto a intenções que talvez nunca viessem a se realizar. Já as mentiras modernas lidam com fatos conhecidos, tendo por objetivo iludir a todos, incluindo os próprios mentirosos.
“Isso é óbvio no caso em que a história é reescrita sob os olhos daqueles que a testemunharam, mas é também verdadeiro na geração de imagens de toda espécie, em que todo veste publicado e estabelecido pode do mesmo modo ser recusado ou negligenciado caso possa vir a prejudicar a imagem.”
Arendt exemplifica esse tipo de pataratice ao mencionar a carência proposital do nome de Trotsky nos antigos compêndios soviéticos sobre a história da Revolução Russa: “Quando Trotsky escutou que nunca desempenhara nenhum papel na Revolução Russa, deve ter tomado consciência de que sua sentença de morte fora assinada (…) Em outras palavras, a diferença entre a pataratice tradicional e a moderna acarretará, na maior secção das vezes, a diferença entre ocultar e destruir”.
Mas, uma vez que questiona a própria Arendt, será mesmo que a verdade é essencialmente impotente diante do poder? Não exatamente, pois cá vale a pena enfatizar que, embora o poder atente contra a verdade, ainda assim, precisa dela para se manter. Por fim, segundo Arendt, zero se sustenta por muito tempo na carência da verdade: “Ela é o solo sobre o qual nos colocamos de pé e o firmamento que se estende supra de nós”.