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Um gringo para lembrar o que o Brasil tem de bom – 28/03/2025 – Mariliz Pereira Jorge

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Não é vasqueiro olhar para o Brasil e pensar que não tem a menor chance de dar manifesto. Violência, desigualdade, burocracia, prevaricação, falta de saneamento vital, falência educacional. Passei da temporada da raiva e tenho frequentado a melancolia, talvez pela idade que vai escapando de mim ao longo dos anos. Ao pensar que já vivi mais do que ainda viverei e que o país nunca realizou a profecia de chegar ao futuro, uma vez que se aventava no pretérito.

Precisei que um gringo me ajudasse a lembrar que, apesar de ser tão ruim, é muito bom. Nick é inglês, não sei de que cidade, deve ter uns trinta e poucos anos, não faço teoria de sua profissão, está no Brasil há quatro anos. Ele parece ser solteiro, morador do pacato bairro do Leme, no Rio de Janeiro, fala português, tem paixão pelo Brasil, considera os brasileiros as melhores pessoas do mundo e diz que morará por cá para sempre.

Com muito humor e enorme capacidade de reparo, ele compartilha suas impressões do país no Instagram, onde ele tem 420 milénio seguidores. Até para falar mal parece que fala muito. Não é o único. Há um nicho para influenciadores de outros países que vivem no Brasil. Em sua última passagem pelo Brasil, Emmanuel Macron recebeu o comediante conterrâneo Paul Cabannes, que tinha uma questão diplomática: reivindicar a proibição de croissant recheado no Brasil. O presidente comprou a farra, disse que a França permite unicamente manteiga, mas seria difícil coibir o contrabando.

O inglês Nick traduz a espírito brasileira, mas com um sotaque carioca, pelo roupa de morar por cá. Mesmo as questões que podem irritar quem mora em outros estados ficam mais palatáveis pela forma ligeiro e divertida com que ele descreve a informalidade, os atrasos em compromisso sociais e profissionais, o ketchup na pizza. Às vezes, acho que o gringo deveria tolerar uma mediação para não encontrar que somos todos assim. Ketchup na pizza já demais para nossa reputação.

Mas o que me mantém leal às suas postagens é o paixão e o esplendor com o qual ele descreve o brasílio, que me faz olhar com mais carinho o que o cotidiano mascara por sua crueza. Para ele, somos gentis, engraçados, carinhosos, amigáveis e o povo mais lavado do universo. Nossa comida tem mais personalidade, nossa música é mais vibrante, nossa dança mais contente, nosso sol mais quente.

Ele diz que aprendeu a elogiar as pessoas, uso que não tinha. Emociona-se a cada invenção, adotou o rodinho na pia, o amplexo e o ósculo uma vez que cumprimento, o banho duas vezes por dia, descobriu o feijoeiro no pote de sorvete, a cerveja quase congelada, o churrasco aos domingos. Se encanta com a nossa língua e seu universo de gírias e expressões – há um vídeo inteiro sobre as dezenas de significados da vocábulo “opa”. E patroa a capacidade que temos de nos legar por memes.

Não sei se é pelo momento de revisitar o pretérito para tentar salvar o horizonte, tem sido difícil ver além dos nossos problemas. Seguir o olhar estrangeiro de Nick me ajuda a lembrar que apesar de tudo, no que temos de bom somos os melhores.


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