Parece excesso expressar que um vibrador pode partir um relacionamento. Mas toda vez que esse ponto aparece, as reações são as mesmas: homens inseguros dizendo que foram “substituídos”, mulheres desconfortáveis, sentindo culpa por querer explorar o próprio prazer.
Engraçado, né? Um varão que se masturba é normal. Um varão que compra um brinquedo erótico é só “curioso”. Mas uma mulher que usa um vibrante… muito, essa precisa justificar. Precisa explicar que “não é porque falta um tanto”. Que “não está comparando”. Que “não está traindo”.
Traindo?
Sim. Por mais contraditório que pareça, existe um medo silencioso de que o vibrador se torne um substituto. E é nesse momento que a conversa revela o seu verdadeiro problema: não é o vibrante que prenúncio o varão, é a mulher que descobre o próprio prazer.
Desde sempre, ensinaram as mulheres que o prazer delas deveria ser uma consequência, um presente, uma troca. O libido feminino sempre esteve atrelado ao outro, ao que ele quer, ao que ele sente, ao que ele pede. Uma mulher que se toca, que entende seu próprio corpo e que descobre o que gosta sem precisar de um parceiro, vira um problema. Porque ela não aceita qualquer coisa. Porque ela exige mais.
É mais fácil crer que um vibrante estraga um relacionamento do que comportar que a falta de diálogo, de entrega e de intimidade verdadeira já estavam fazendo esse trabalho há muito tempo.
Nenhum varão é substituído por um vibrante. Porque um vibrante pode simular um toque, mas não pode gerar conexão. Pode gerar prazer, mas não pode trocar olhares. Pode intensificar o orgasmo, mas não pode edificar intimidade. O que um vibrante faz, e isso sim pode ser terrificante para alguns, é ensinar a mulher a se priorizar. Ele mostra que o prazer dela não é uma gentileza, um pormenor ou um bônus. Ele é o ponto principal.
E talvez esse seja o verdadeiro problema.
Porque se uma mulher descobre o que realmente a satisfaz, ela não vai concordar menos do que isso. Se ela entende que o prazer dela vem em primeiro lugar, ela não vai continuar justificando o indumentária de nunca gozar. Se ela aprende a explorar seu corpo sem pressa, sem pressão e sem temor de julgar a própria excitação, ela não vai mais fingir que está satisfeita.
Portanto, antes de ver um brinquedo uma vez que prenúncio, a pergunta deveria ser outra: por que o prazer feminino ainda é visto uma vez que um tanto que precisa ser controlado?
O vibrante não tira zero de ninguém. Ele não concorre com ninguém. Ele só revela o que já estava ali, mas que muita gente preferia ignorar.