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Esporte

Publicidade transforma história de superação em gororoba – 20/02/2025 – No Corre

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A história de superação de Cafu, que foi reprovado em nove peneiras para só logo engatar no futebol profissional e mais tarde ser o grande capitão do penta, virou storytelling de um mercantil de uma “bet”.

Outros de seus companheiros de 2002 também surfam a vaga. Zero disso surpreende e ofereço cá menos sátira do que constatação —ou consternação. O fluxo é macróbio: Pelé promovendo vitamina; Gerson, cigarro; Miles Davis, sochu.

Mas num país em que ídolos do esporte têm voz muito mais potente do que pessoas também públicas que de alguma forma atuam para reduzir ou ao menos lançar luz sobre a nossa maior ferida —o fosso social—, e sendo boa segmento desses ídolos pessoas que comeram o pão que o diabo amassou, é de se pensar se a publicidade não acaba por tirar a potência de todas essas histórias memoráveis, transformando-as numa gororoba qualquer.

Não advogo cá limites à publicidade, alguma coisa que talvez seja um imperativo de saúde pública e de cidadania em certos segmentos, nem reclamo uma tributo compulsória dos ídolos do esporte a um programa visando um suposto muito generalidade.

O que faço alguma coisa pateticamente é registrar meu incômodo com a apropriação sem mais aquela de figuras que talvez pudessem, por sua gigantesca popularidade, mudar alguma coisa.

João Fonseca nasceu em outro princípio, o que logo se vê pelo esporte que pratica em altíssimo nível. Mas suas enormes destreza, força de vontade e preocupação pela vitória “furam a bolha” e falam diretamente com milhões de brasileiros. Pois muito: a ele, rapidamente, talvez até em razão dos negócios do pai, colaram-se instituições financeiras.

Não sei muito porquê instituições financeiras podem contribuir para o muito generalidade ao buscar essencialmente maximizar o lucro. Quero crer que não temos visto o tal bolo crescer para enfim ser dividido; e a teoria de que elas podem ser ferramentas de prosperidade ao alavancar diversos setores também tem furos.

De concórdia com a taxa de juros, é muito mais seguro fazer o numerário “trabalhar” do que malparar no setor produtivo. E o setor financeiro não costuma reclamar quando o Banco Mediano sobe a Selic.

Quando as empresas, há mais ou menos três anos, estavam naquela de falar em legado e coisas do tipo, dirigentes da instituição que patrocina Fonseca diziam querer levar ensino financeira a milhões de brasileiros. Na combate com os bancões, era sua forma de estar do lado bacana da história. O legado.

O problema é que o sistema não contempla todos. Se os de insignificante sobem, quem fica mais embaixo? E a instituição, por seu lado, também não gostaria de ser “bancão”?

Em 1998, numa crítica nesta mesma Folha aos Racionais Mc’s, não poupei Mano Brown e companheiros por não impedirem nem inibirem o coro de “filha de puta” que sua entourage direcionava a Carlinhos Brown enquanto a orquestra recebia desse mesmo Brown o prêmio a que fizera jus numa competição da MTV.

Era talvez uma tentativa de imprecar pela última vez contra o sistema; e, ao mesmo tempo, uma guião avassaladora diante da mão invisível e amorfa dessa Coisa Maior, Coisa que eles antes haviam tentado quixotescamente combater, recusando-se, por exemplo, a falar com a “mídia burguesa” ou a trovar em espaços frequentados por “playboys”.

Vinte e sete anos depois, eis-me também a xingar Carlinhos Brown ao me incomodar com a bet que fez da linda história de Cafu uma gororoba qualquer.


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