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Projeto para os próximos 3 meses é trinchar doces e frituras – 22/03/2025 – Antonio Prata

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Parei no farol vermelho, olhei o celular, li o título do podcast na oblíquo e captei só duas palavras: “Trump” e “detox”. Pensei: nossa, que maravilha, será uma novidade voga? Em vez da pessoa fazer um detox de álcool, de músculos, de carboidrato, ela faz um detox de ponto? Um mês sem falar, ler ou ouvir sobre Donald Trump? Um “dry january” (ou “february” ou “march” ou mesmo um ano inteiro) se desintoxicando de um tema depressivo? Só no outro farol vermelho li recta a descrição do podcast e vi que não era zero daquilo: “As medidas econômicas do Trump são um detox ou um veneno para os Estados Unidos?”. Não importa. Fico com meu ilusão. Detox de ponto. Gostei.

No Carnaval, viajei com uma turma e noventa por cento das conversas descambavam pra aquecimento global, as loucuras do Trump, os riscos das eleições de 2026 e outros temas tenebrosos. No sábado, já no moca da manhã, alguém sugeriu: “pessoal, e se a gente combinasse de passar o dia inteiro sem falar sobre o termo do mundo?”. Foi um dia maravilhoso. Terminou com o sol se pondo no mar e o firmamento todo alaranjado não nos trouxe à memória qualquer ser humano da mesma cor.

Imagino um companheiro organizando um jantar num grupo de WhatsApp. “Oi, gente, sobre sexta: alguém tem alguma alergia fomentar? Intolerância ao glúten ou lactose?”. Eu responderia: “Oie! Uma vez que qualquer coisa, mas a partir de amanhã vou entrar numa dieta com restrição de Bolsonaro. Tudo muito se nenhuma conversa tiver esse substância?”. Uma amiga escreveria: “Putz, eu to fazendo uma tese sobre 2013, queria falar sobre”. O companheiro responde: “Venustidade, vou fazer logo a sala com Bolsonaro, mas a cozinha é Bozo free. Pode ser assim?”. Eu, uma vez que aquela pessoa que come a feijoada vegana, com tofu e jaca fazendo as vezes de linguiça e músculos seca, comeria na cozinha, falando sobre “White Lotus”, pilates e as últimas descobertas sobre o uso da psilocibina (princípio ativo dos cogumelos mágicos) no tratamento da depressão.

Demente! Demente! –gritarão alguns. Não os julgo. Sim. Vou me alienar desses temas. Mas vocês acham, ó, alguns, que a gente falar mal do Bolsonaro –ou do Elon Musk, do Trump, do Darth Vader– durante um jantar terá qualquer efeito sobre a veras?

Lembro de uma pilar, acho que do Pablo Ortellado, durante a quarentena, falando dos efeitos deletérios do WhatsApp para a esquerda. A gente fica nos grupos elogiando artigos, posts e falas dos outros e soltando o verbo contra o que acha estar inexacto no mundo. Gasta, assim, uma virilidade que poderia infligir de forma mais útil. “Parabéns, Fulano, sobre seu texto sobre os yanomamis!”. “Que paradoxal o que Sicrano falou sobre a cloroquina!”. “Eu acho que a Ancine tinha que fazer tal e tal e tal pra melhorar a situação do audiovisual brasiliano”. “Que bizarro o que XYZ falou sobre as vacinas!”. Aí fechamos o WhatsApp e vamos almoçar, achando que fizemos um tanto pelo país. Não fizemos necas de pitibiriba. O país continua afundando, mas nós estamos muito na fita. Ou no grupo.

Projeto pros próximos três meses: trinchar os doces, frituras e gordura. Não tomar. Fazer tirocínio 4 vezes por semana e não falar sobre Trump, Bolsonaro e aquecimento global. O mundo provavelmente não vai melhorar zero, mas se eu fizer um hemograma de minh’espírito, nossa senhora.


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