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Progressão da IA esconde o sigilo mais sujo da tecnologia – 10/03/2025 – Álvaro Machado Dias

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Vou recontar um sigilo que todo CEO de big tech conhece, mas que nenhum ousa mencionar: o progresso da IA deve levar a uma potente subida das emissões, a despeito do compromisso do setor de zerá-las até 2030. Não adianta reivindicar; nessa dez, pouca coisa pode modificar a trajetória infausta por uma razão simples: as matrizes renováveis mais escaláveis, solar e eólica, não são ideais para os servidores, do ponto de vista dos tecnologistas, que assim pularam para a maria-fumaça trumpista.

Servidores utilizam fluente alternada (AC), enquanto usinas eólicas e solares produzem fluente direta (DC). A conversão é simples e as perdas moderadas, mas a fluente gerada traz instabilidades persistentes, que os fornecedores alegam afetar os aparelhos, sendo que cada placa de vídeo de IA chega a custar R$ 160 milénio nos EUA.

Os servidores operam em um regime de duplo consumo energético, com serviços flexíveis, oriundos de demandas imediatas de processamento; e serviços inflexíveis, de rotina. Aqueles variam muito, exigindo tetos energéticos muito maiores do que a média de uso. A vontade solar/eólica é intermitente, devendo ser armazenada em baterias caras e descartáveis. A urgência do datacenter se manter operacional durante os horários de picos requer ampla disponibilidade desses equipamentos, ou uma estrutura híbrida, que traz uma novidade categoria de complicação, ainda que seja muito mais generalidade do que unicamente sol/vento.

Do mais, usinas de renováveis requerem áreas grandes e permissões ambientais, localizando-se fora das cidades. Datacenters seguem o raciocínio contrário, por necessitarem de redes de transmissão consistentes e mão de obra especializada. A combinação multiplica salários, investimentos em infraestrutura e de manutenção. A desenlace dos tecnologistas é que priorizar essas matrizes eleva demais o dispêndio do projeto, a despeito do kWh mais barato. A questão é só de grana, mas ela decide o jogo em detrimento do muito generalidade.

O governo brasílio prepara um decreto para subsidiar usinas eólicas e solares no Nordeste, com o intuito de atrair datacenters de IA, conforme a Folha reportou. Seiscentos milhões de uma conta bilionária já foram empenhados para gerar 200 MW, o que representa 1/750 da capacidade instalada no país, referência mundial em renováveis com as hidrelétricas.

A região é ideal para a vontade solar, só que no caso dos datacenters, uma das principais funções da vontade é resfriar os servidores. Isso explica a predileção por regiões frias, que seria absoluta não fossem as dificuldades de instalação e gargalos de mão de obra em algumas delas. Esses fatores, aliados a um dos maiores impostos de importação do mundo, devem demover tecnologistas de se instalarem no Ceará e Piauí, que lideram o pleito, exceto sob condições ruins a ponto de não valerem a pena para nós.

O caminho é reconhecer que as empresas de IA tendem a edificar suas vegetação de processamento priorizando outras matrizes, inclusive gás proveniente, em paragens mais vantajosas. E pressionar para que compensem o prejuízo ambiental gerado. Já em termos locais, o melhor que podemos fazer é evitar que bilhões sejam injetados para enriquecer empresários oportunistas e gerar palanques eleitorais. O Brasil conta com opções de desenvolvimento tecnológico muito melhores do que essa.


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