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Por que pessoas inteligentes acreditam em mentiras? – 23/02/2025 – Becky S. Korich

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Sócrates já dizia o óbvio: “Você não sabe o que não sabe”. Esse pensamento nunca fez tanto sentido quanto na sociedade moderna. O maior risco não está em não saber, mas em não saber que não se sabe. O pensamento socrático nos ensina que reconhecer a própria ignorância é o primeiro passo para se entender a verdade e a sabedoria.

No entanto, o reconhecimento da própria ignorância é, paradoxalmente, uma habilidade que as pessoas que se consideram esclarecidas geralmente não têm.

Vivemos bombardeados de informações por todos os lados, o que não significa que elas nos aproximam da verdade ou aumentam a nossa compreensão da veras. A emboscada está em crer que a mera opulência de informações nos deixará suficientemente bem-informados. Porquê diz Yuval Harari, a informação zero mais é senão uma tentativa de perceber veras, mas não é a veras em si. Sem o treino do pensamento crítico, ela se transforma facilmente em desinformação.

O pior ignorante é aquele que sabe somente a metade da história. Conhecimento funciona uma vez que geleia: quanto menos se sabe mais se tenta espalhar.

Existem lacunas no nosso conhecimento que não estamos dispostos a confrontar. É mais fácil substanciar as crenças que confirmam o nosso universo familiar do que mourejar com verdades que podem ser dolorosas e desafiadoras. É esse o maior problema: as mentiras podem ser mais confortáveis do que a verdade.

Transformar dados em conhecimento, requer uma ração de humildade intelectual, pois a construção humana é incapaz de conquistar a totalidade da veras. Tão abundantes quanto as informações, são as pessoas que não têm humildade intelectual, que têm uma crédito desproporcional –e muitas vezes ilógica– em suas próprias convicções. Não por coincidência, são as que mais compartilham conteúdos emitindo (replicando) opiniões sobre tudo, sem ter absorvido e refletido minimamente sobre a verdade dos fatos.

O fluxo persistente de informações tem o mesmo efeito da falta de informações: a desinformação. Ele é usado uma vez que um instrumento de controle e polarização. Histórias são editadas, inimigos são fabricados, medidas extremas são justificadas. Os livros de história nos mostram o quanto isso é perigoso.

Não nos enganemos que é um fenômeno individual dos regimes totalitários. A desinformação representa risco grave para democracias modernas e sociedades abertas, que parecem caminhar para a ruinoso.

Distorções são o prato referto para confundir o debate público e tornar indistintas medidas repressivas de atos de resistência legítimos. Situações antes consideradas inaceitáveis, foram normalizadas: a legitimação do terrorismo uma vez que uma forma verosímil de se negociar; o negacionismo da ciência; a relativização de direitos fundamentais; a negação de mudanças climáticas –o que tem retardado ações urgentes para se combater a crise ambiental.

A desinformação já fez os seus estragos mais perigosos: minou princípios éticos e morais, corroeu a crédito nas instituições e intensificou a polarização e o ódio.

Estamos condenados, logo, a repetir mentiras até que elas se tornem verdades em nossas mentes?

Talvez, o maior problema não seja a peta, ou a estupidez –ambas condições inevitáveis que nem os mais inteligentes escapam–, mas a aversão à sensatez e o desprezo pela verdade.


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