Às 8h15 do dia 6 de agosto de 1945, há quase 80 anos, uma explosivo nuclear caiu sobre a cidade de Hiroshima matando instantaneamente mais de 70 milénio pessoas e afetando outras centenas de milhares. Muita gente ainda iria adoecer, tolerar com doenças crônicas ou morrer nos anos seguintes por razão da radioatividade.
Daí surgiu o nome nipônico hibakusha. O termo significa literalmente vítima da explosivo atômica. São pessoas que foram afetadas pelas explosões em Hiroshima e em Nagasaki, mas sobreviveram, algumas com sequelas. Há 57 delas no Brasil, sendo a grande maioria em São Paulo.
Durante muitas décadas, os hibakushas que viviam fora do Japão tiveram que fazer muita pressão sobre o governo nipónico para conseguir um tratamento isonômico com o oferecido aos moradores do país. Benefícios eram concedidos mas não atingiam quem vivesse no exterior.
Em 1983 o governo se passou a oferecer uma indenização de 25 milénio ienes mensais (R$ 965) para as vítimas que moravam no Japão. Quem havia emigrado ficou sem direitos.
Diante desse quadro, em julho de 1984, o relojoeiro Takashi Morita, que morreu em agosto do ano pretérito, aos século anos, ajudou a gerar a Associação dos Sobreviventes da Explosivo Atômica, que funcionava em cima de sua mercearia no bairro da Saúde, na zona Sul de São Paulo.
Na ocasião foram reunidos 70 membros, mas em poucos meses o número saltou para 300. O objetivo de Morita e dos outros participantes era cobrar mais atenção e auxílios do governo nipónico. “Durante muitos anos o governo não reconheceu a existência de nenhum sobrevivente fora do Japão”, diz Yasuko Morita, filha de Takashi.
O primeiro movimento da associação foi tratar de agendar um encontro no Ministério do Exterior nipónico reivindicando uma visitante de uma missão de médicos ao Brasil. Isso aconteceu em 1985 e passou a se repetir a cada dois anos.
Na semana passada, aconteceu no CineSesc, na rua Augusta, uma sessão fechada do curta-metragem “Hibakusha = Psique Errante”, dirigido por Joel Yamaji e produzido por Juliana Domingos e Joel Pizzini, que trata justamente de Takashi Morita. É uma viagem poética na vida desse fascinante personagem, que morreu em agosto do ano pretérito, aos 100 anos, e teve uma complexa trajetória.
A luta de Morita foi vencedora. Em 2005, as vítimas da explosivo que viviam em outros países conseguiram ocupar um auxílio financeiro para tratar da saúde e esteio totalidade para tratamentos médicos. Entre os principais males que eventualmente afligem os hibakushas estão vários tipos de cancro, catarata e problemas de tireoide.
A partir de 2008, a entidade que representa essas vítimas no Brasil passou a se invocar Associação Hibakusha Brasil pela Sossego, devido à influência pacifista de Morita. Nessa estação, os hibakushas brasileiros já tinham seus direitos atendidos.
Hoje existe, por exemplo, um convênio da associação médica de Hiroshima com a Associação Paulista de Medicina. Mas não há muito mais a fazer. “A associação trabalhou para reivindicar os direitos de saúde dos hibakushas de fora no Japão e, ao mesmo tempo, deu uma mensagem de tranquilidade para a sociedade brasileira, que nos recebeu tão muito.”, diz Yasuko.
A entidade foi extinta em 2020 e até antes da pandemia eram feitas reuniões mensais. Yasuko conta, porém, que a idade avançada dos hibakushas dificulta a locomoção e os encontros. O mais jovem tem 80 anos. “Mesmo assim o grupo que restou continua dando assistência às vítimas no Brasil”, diz.