O Ibovespa, que terminou o ano pretérito maltrapilho e maltratado, reagiu muito à chuva de tarifas que assombra a economia dos Estados Unidos e já registra praticamente 10% de subida neste ano.
É um refrigério na carteira de ações, depois de tanta tempestade. Mas, com a taxa básica de juros supra de 14% ao ano, colocar suas fichas em títulos do Tesouro, rendendo mais de 1% ao mês, praticamente livre de risco, continua tentador demais.
Ainda assim, quem tamis oportunidades na Bolsa pode ter se deparado com boas surpresas nos últimos meses. Quase insignificantes na constituição do Ibovespa, representando menos de 0,5% do índice, as gigantes da educação ficam, muitas vezes, fora do radar dos investidores.
Neste ano, a valorização de suas ações foi chocante. A Cogna (COGN3) viu seus papéis decolarem impressionantes 74% desde o Réveillon, enquanto os da Yduqs (YDUQ3) subiram quase 40% e os da Ânima (ANIM3) escalaram 35%.
O gráfico é de tombar o queixo, quando analisamos 2025 isoladamente. Se olharmos para os últimos 12 meses, entretanto, é puro sofrimento. Perdas de mais de 50%. O filme de terror para o setor da ensino na Bolsa está em edital desde a pandemia de Covid-19, ou seja, lá se vão cinco anos.
A junção entre os lockdowns (quando nos trancamos em moradia para fugir do vírus) e o progressão tecnológico permitiu a oferta massiva dos cursos a intervalo, pelo preço de um pãozinho. Todo o protótipo de negócio teve que se regenerar. E as ações foram a reboque. Os papéis da Cogna, por exemplo, hoje, são negociados a um valor 84% menor do que em 2020. Ânima e Yduqs registram, no mesmo prazo, quedas de mais de 70%.
A viradela para 2025, entretanto, parece ter trazido um sopro de esperança para as gigantes. A recuperação de suas ações ainda é ínfima perto das quedas, mas extremamente significativa, já que duas delas tocaram o preço mais plebeu da sua história em dezembro. Não dá para prometer que foi o fundo do poço, mas há bons sinais de que tenha sido uma inversão de tendência.
Analistas de corretoras parecem animados com o momento. O time do BTG Pactual e da XP recomendam a compra de duas das três ações do setor. Ao que parece, as contas do último trimestre mostram um responsabilidade de moradia muito feito.
Na Yduqs, por exemplo, apesar de a receita com ensino presencial ter sido de R$ 2,1 bilhões e a do do dedo ter sido de R$ 1,7 bilhão, seu resultado com o segmento do dedo foi muito melhor (R$ 1,3 bilhão versus R$ 996 milhões). Ou seja, do limão, finalmente, saiu limonada. Ao menos na quantidade de cursos vendidos.
O reposicionamento tecnológico do setor impulsionou também a mudança de cenário brasílico. O Recenseamento da Instrução Superior mostra propagação recorde de matrículas. De 2021 para 2022, o último ano do governo Bolsonaro, o salto de ingressantes foi de mais de 20%, chegando a 4,75 milhões de novos alunos, com a ensino a intervalo (EaD) superando a presencial.
Em 2023, a chegada de novos estudantes às salas de lição manteve-se em subida. O governo do PT tradicionalmente concentra esforços e gastos (e publicidade) na ampliação do aproximação ao ensino superior. Em janeiro, por exemplo, lançou um programa para remunerar bolsas de R$ 1.050 a estudantes de licenciatura.
Bons sinais para um setor que navegou por mares tão turbulentos nos últimos anos.