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O que Howard Marks ensina sobre investir em renda fixa no atual ciclo de juros – 08/03/2025 – De Grão em Grão

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Você já correu uma maratona ou conhece alguém que já participou de uma? No prelúdios, todos largam cheios de robustez. Alguns saem acelerando, outros seguram o ritmo. Conforme a corrida avança, os que exageraram no início começam a desacelerar, enquanto os que dosaram o esforço ganham vantagem. O sigilo para completar muito a prova não está na largada, mas em entender quando ajustar o ritmo ao longo do trajectória.

Nos investimentos, acontece um tanto parecido. O mercado segue ciclos, e quem entende uma vez que eles funcionam consegue tomar decisões mais inteligentes. O investidor generalidade, porém, tende a agir no impulso, investindo no que está em subida e evitando aquilo que está em baixa – exatamente o contrário do que deveria fazer. Howard Marks, um dos maiores investidores do mundo, ensina em seus memorandos e em seu livro “Dominando o ciclo do mercado” que o sigilo não está em prever o horizonte, mas em reconhecer onde estamos no ciclo e ajustar a estratégia a partir disso.

Hoje, vivemos um momento importante no ciclo da renda fixa. A Selic subiu de 10,5% para 13,25% ao ano e deve saber 14,25% ainda neste mês e pode subir ainda mais caso a inflação se mantenha supra da meta. Entretanto, sabemos que os investidores sobre reagem tanto no otimismo quanto no pessimismo. Isso quer proferir que existe a possibilidade de a taxa de juros básica da economia não subir supra de 14,25% ao ano. Adicionalmente, um esfriamento econômico mundial, pode trazer juros mais baixos a frente.

Com a subida da Selic, muitos acreditam que concentrar a carteira de renda fixa em títulos pós-fixados é a melhor escolha, pois o CDI está oferecendo ótimos retornos. Mas quem pensa assim pode estar ignorando a lógica do ciclo e perdendo uma oportunidade nos próximos meses.

Quando os juros estão subindo, os títulos atrelados ao CDI são, de indumento, a melhor opção. Uma vez que acompanham a Selic, garantem o maior retorno do momento sem o risco da marcação a mercado. Mas, segundo Marks, os melhores retornos surgem quando ninguém está prestando atenção. O investidor inteligente sabe que, em qualquer momento, os juros atingirão um pico e a estratégia precisará mudar.

Os títulos prefixados e os indexados ao IPCA são os que mais sofrem quando os juros sobem. Uma vez que suas taxas são definidas no momento da compra, eles perdem valor à medida que novas emissões oferecem retornos mais altos.

No entanto, é justamente essa queda momentânea que cria as oportunidades do ciclo. Quando os juros atingem seu ponto mais superior, quem investe nesses papéis consegue prometer taxas extremamente vantajosas para os próximos anos e ainda se beneficiar da valorização caso a Selic volte a tombar. O sigilo está em entender quando esse pico será atingido. Infelizmente, só sabemos com segurança depois que passou.

Imagine um investidor que comprou toda a carteira títulos referenciados ao IPCA em 2020 e 2021, quando a Selic estava em 2%. O rendimento parecia ótimo na quadra, mas, com a subida dos juros, ele ficou recluso a uma taxa baixa enquanto novas emissões passaram a remunerar muito mais.

O erro? Concentrar e ignorar o ciclo. Agora, o cenário se inverteu: os juros estão elevados, e os títulos prefixados e IPCA+ podem, finalmente, oferecer taxas atraentes no horizonte com a queda dos juros. Não estou dizendo que já atingimos o supremo e a exposição a eles deve ser elevada, mas que trespassar desses indexadores neste momento pode ser um erro.

Marks destaca que a maioria dos investidores age movida por emoção, comprando ativos somente quando o mercado já os precificou para cima e evitando-os quando estão baratos. É por isso que, na renda fixa, muitas pessoas correm para os prefixados só depois que os juros começam a tombar, ou seja, quando as melhores oportunidades já passaram.

O investidor inteligente sabe lastrar sua carteira de concordância com o ciclo. Hoje, manter uma secção relevante da carteira no CDI ainda faz sentido, pois os juros continuam subindo. Mas também não é hora de descartar títulos prefixados e referenciados ao IPCA, pois o término desta subida é incerto e pode estar próximo.

A lógica dos ciclos de Marks não exige prever o horizonte. Basta reconhecer quando estamos perto de um extremo e ajustar a estratégia para o que vem a seguir. Assim uma vez que em uma maratona, não adianta largar com tudo ou segurar demais. O sigilo é saber o momento notório para aligeirar e prometer uma chegada vencedora.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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