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O mundo inunda e pega lume – 25/01/2025 – Antonio Prata

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A crônica estava pronta desde quinta (23). Era só reler sexta à noite, voltando do jantar na minha mana, dar uma polida e mandar pra Folha.

Começava assim. “Até o Globo de Ouro ainda dava pra deixar a campanha de “Ainda estou cá” na mão de instituições menores porquê a Sony Pictures. Podíamos descrever com profissionais menos conhecedores do matéria porquê produtores de cinema de Hollywood, assessores de prensa e relações públicas de empresas multinacionais, mas agora é Oscar, minha gente.

Tá na hora de invocar quem entende de invadir uma cidade, um país, um continente e trazer o caneco, quero expor, o boneco, pra morada. Convoquemos a Gaviões da Leal.”.

O texto fazia um paralelo entre a verosímil (provável!) conquista do Oscar e a vitória do Mundial de Clubes contra o Chelsea, em 2012. (Eu estava lá!). Falava da invasão corintiana em Tóquio, da invasão corintiana ao Rio, em 1976, da capacidade que os brasileiros têm de torcer pelo país —e o que são os torcedores do Timão senão brasileiros ao cubo?

Nas últimas semanas, com o sucesso de “Ainda estou cá”, estamos vivendo um vasqueiro momento de orgulho pátrio.

Pós Mundo de Ouro, com o filme indicado em três categorias do Oscar, achei que podia fazer a farra supra. Só me esqueci que vivemos num zero magnífico mundo novo, em que até enunciação de paixão, quando compartilhada nas redes de Musk, Zuckerberg e seus comparsas, tem a chance de virar prenúncio de morte.

Foi minha mana quem me contou, no jantar, que as hostes da internet estavam invadindo as páginas das atrizes, atores e demais responsáveis por Emilia Pérez e trolando as pessoas. Que a Fernanda Torres estava pedindo pra pararem.

Quer expor, a piada que eu imaginei porquê uma puro torcida cantando “Cá tem um grupo de louco, louco por ti Fernanda!” já tinha virado um grupo de hooligans espancando os outros concorrentes.

Se, nas redes sociais, um matéria tão lícito quanto o sucesso de um filme rapidamente descamba pra baixaria, o que falar sobre temas sérios?

Temas que merecem cautela, recato, que exigem de nós a compreensão de nuances, de contradições? Impossível.

Neste mundo criado pela meia dúzia de bilionários inconsequentes presente na primeira fileira, na posse do Trump, é A ou B, preto ou branco, só existem duas posições. Santos ou demônios.

Pior. Depois de alguns dias no liquidificador das redes, com pontapé, porrada e explosivo de todo o lado, todo mundo vira demônio. Uma vítima com uma justificação justa rapidamente se tornará verdugo. Terá milhares de mensagens contra si. A serra russa do sadismo internético vai fritar todos os envolvidos em qualquer justificação, para o gozo da plateia.

Uma vez que os algoritmos valorizam os posts mais agressivos e cada um recebe o que a META quer, cada turma vai ter uma visão completamente dissemelhante de cada história. O que faz com que as discussões não se encaminhem, nunca, pra uma desfecho, mas sigam num torvelinho infinito.

A esquerda tá absolutamente vendida nesse rolê. Achando que, na luta livre das redes, pode melhorar o mundo, quanto mais nos debatemos, mais afundamos na areia movediça do Zuckerberg, em que Trumps são eleitos, reeleitos, o mundo inunda e pega lume. Literalmente.


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