Em 1796, o médico inglês Edward Jenner notou que ordenhadoras infectadas com varíola bovina —forma branda da doença— eram imunes à varíola humana, que é muito mais grave. Resolveu, portanto, utilizar a secreção de lesões da varíola bovina para inocular uma moçoilo, que depois apresentou isenção à varíola humana.
O procedimento foi chamado de “vaccination” (vacinação, em português), em referência à “variolae vaccinae”, sentença em latim para “varíola das vacas”.
Posteriormente 229 anos, vacinas que combatem uma gama variada de enfermidades infecciosas salvaram incontáveis vidas. Por isso é impressionante que, em 2025, haja um surto de sarampo na região mais rica do planeta.
De janeiro a 15 de março, os EUA contabilizaram 294 casos de sarampo, superando os registros da doença em todo o ano de 2024. A contaminação começou no Texas e atingiu o Novo México.
A cobertura vacinal entre as crianças no país caiu de 95,2% no período de 2019-2020 para 92,7% em 2023-2024 —índice subalterno ao recomendado para prometer a isenção coletiva (95%).
Enquanto isso, Robert F. Kennedy Jr., secretário de Saúde do governo de Donald Trump, anunciou que o Meio de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) conduzirá um estudo para estimar se há relação entre vacinas e autismo, mesmo que pesquisas robustas já tenham refutado essa hipótese nas últimas décadas.
Curiosamente, o disparatado movimento antivax da direita populista atual, não só nos EUA, se relaciona com a esquerda, mais especificamente com o movimento hippie dos anos 1960-1970, que se opunha aos imunizantes com base em naturalismo, repudiação da poder governamental e ênfase na liberdade pessoal.
A esse ideário, trumpistas adicionam teorias conspiratórias contra farmacêuticas e órgãos internacionais —sentença de seu insensato antiglobalismo.
A diferença é que os hippies nunca chegaram à Lar Branca. Agora, americanos adoecem devido à negação de um procedimento testado e estudado há séculos. O movimento antivax é uma ideologia infecciosa.