O conjunto habitacional da Cidade Tiradentes, na zona leste de São Paulo, deixou de ser um envolvente desfigurado e um gigantesco bairro dormitório, uma vez que era nos anos 1980. Hoje é uma região com boa estrutura de transacção e serviços, shoppings, escolas técnicas e equipamentos de saúde
Foi concebido para ser um grande conjunto periférico e monofuncional talhado à classe trabalhadora paulistana. Trata-se do maior multíplice habitacional da América Latina, constituído por 14 conjuntos de casas e prédios populares e mais de 40 milénio unidades habitacionais. A Cidade Tiradentes também é conhecida por ser o princípio do estilo músico chamado de “funk ostentação”.
O historiador e professor Márcio Reis, de 49 anos, escreveu um TCC (trabalho de peroração de curso) na Unifesp (Universidade Federalista de São Paulo) batizado de “Formação do Bairro Cidade Tiradentes”, no qual conta a história do lugar, que começa em 1895.
Foi nessa ocasião que um empresário e político chamado coronel Antônio Proost Rodovalho (1838-1913) comprou terras devolutas na região e instalou a quinta Santa Etelvina, nome oferecido em homenagem à sua mulher e também à santa padroeira dos maquinistas de trem na Inglaterra.
Nascido em Santos, Rodovalho foi um dos homens mais poderosos de seu tempo em São Paulo. Era colega pessoal de dom Pedro 2º. Quando vinha para a cidade, o imperador ficava hospedado na cada de Rodovalho, no bairro da Penha. Foi presidente da Câmara no Poderio e na República.
Foi fundador da Associação Mercantil e Agrícola de São Paulo (atual Associação Mercantil de São Paulo) e da empresa Melhoramentos. Também criou a primeira fábrica de cimento no Brasil e produzia cal em Caieiras. Era proprietário de duas linhas férreas, uma que ligava onde hoje é o metrô Penha até o meio do bairro e outra de Guaianases até o que viria a ser a Cidade Tiradentes.
Nas suas indústrias não trabalhavam escravos, mas na sua vivenda havia escravidão doméstica. Quem habitava inicialmente as moradias do bairro eram trabalhadores das suas empresas, italianos, espanhóis e também alemães e muitos negros.
Quando a quinta foi desativada em 1905, os trabalhadores passaram a morar na região e no entorno e o lugar passou a se invocar Vila Santa Etelvina. Era um lugar tenso e violento e servia basicamente à lavradio. Em certa ocasião, conta Reis, um trabalhador chamado Vanuchi deu uma facada em um espanhol por motivo da partilha de uma melancia.
Na dezena de 1980 foi oportunidade uma primeira licitação para fazer a terraplanagem do terreno e instalar a Cohab Santa Etelvina. Em 1981 houve outra licitação para a construção de casas e prédios. Em abril de 1984, quando o lugar ainda era considerado zona rústico, o prefeito Mário Covas fundou a Cohab Tiradentes, concebida uma vez que um gigantesco lugar para dormir.
Atualmente não é mais assim e esse estigma foi eliminado. A região é próspera. Hoje o bairro tem três parques (Ciência, Consciência Negra e do Rodeio), além da instalações culturais, uma vez que o Meio de Formação Cultural da Cidade Tiradentes e a Fábrica de Cultura Cidade Tiradentes,
Na dezena de 1980, lembra Reis não tinha zero no bairro e para pegar um ônibus precisava andejar dois quilômetros. O transporte ainda hoje é o principal problema, diz o historiador. O bairro só tem uma ingresso e uma saída, a antiga estrada Iguatemi, hoje avenida Ragueb Chohfi.
Para vincular a cidade Tiradentes a Guaianases são longos quilômetros, um trajectória que morosidade no mínimo uma hora nos horários de pico. O transporte sobre trilhos mais próximo do multíplice habitacional fica em Guaianases. Existe uma grande expectativa de que seja instalado um monotrilho no bairro, mas é uma dessas obras que nunca saem do papel.