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O feminismo errou – 21/03/2025 – Mariliz Pereira Jorge

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O feminismo errou ao excluir os homens do debate que vem sendo promovido na última dez. É compreensível que haja raiva e ressentimento por séculos de vexame e desigualdade, mas não se faz revolução sozinho. Não se muda uma veras de machismo e misoginia somente com a conscientização feminina de que sofremos violências, se a sociedade não assume a tarefa de também sensibilizar e educar as novas gerações do sexo masculino. É também sobre isso a série “Adolescência”, um fenômeno de audiência da Netflix, que vem causando um alvoroço.

A agressividade posta na história da arguição de homicídio cometido por um menino de 13 anos não é somente uma questão de choque de gerações, de negligência ou de falta de carinho dos pais e das instituições de ensino. O diagnóstico é muito mais multíplice. Enquanto meninas vivem o despertar sobre seus direitos, do outro lado o repercussão é de vingança, porque o exposição muitas vezes é de vingança. Os homens não prestam. Nem todo varão, mas sempre um varão. Todo varão é um estuprador em potencial.

Essas falas não impactam somente o adulto maduro que tem, ou deveria ter, a capacidade de ler a mensagem subliminar, mas todos aqueles que ainda estão em formação e chegam a um mundo sentindo-se rejeitados e excluídos, onde já foram julgados e condenados a conviver com o chancela de machistas e misóginos pelo resto de seus dias.

Amigas feministas têm tido dificuldade em conciliar o exposição do movimento, muitas vezes invasivo, com a veras de filhos amorosos e conscientes, que têm dentro de morada uma representação real do que significa paridade de direitos, mas encontram na rua somente hostilidade e a retórica vigente de que são machos tóxicos.

Na ponta oposta do feminismo, o surgimento da vaga nefasta das “esposas tradicionais”, que reafirmam papéis de gênero envelhecidos, com o agravante de que o varão ideal é rico, protetor, provedor, bonito e popular. Um papel no qual a maioria dos jovens adolescentes não se encaixa. Uma retórica que ajuda a disseminar nas redes que as mulheres são interesseiras, gananciosas, golpistas e, consequentemente, culpadas por suas frustrações emocionais, amorosas e sociais.

É o que impulsiona o surgimento de grupos misóginos uma vez que os Incels (celibatários involuntários), os MGTOW (Homens Seguindo Seu Próprio Caminho), os Red Pill (pregam o “despertar” do varão para a manipulação feminina), os Black Pill (versão mais radical dos red pill) e os Pick Up Artists (comunidade que ensina técnicas de sedução baseadas em manipulação e desprezo).

O que a série “Juvenilidade” mostra é que se engana quem acredita que somente jovens radicalizados, socialmente isolados, criados em lares disfuncionais são impactados pela novidade ordem ditada pelo feminismo e também por esse comportamento retrógrado, estimulado pelo conservadorismo que reforça a responsabilidade masculina uma vez que sustentáculo social. Também não basta maior vigilância sobre o consumo do dedo. Nem se todos os adolescentes passarem a andejar com GPS e tiverem seus caminhos na internet rastreados 24 horas por dia será verosímil mudar a veras de que o despenhadeiro entre homens e mulheres está cada vez maior.

É preciso entender que leste sistema desvaloriza a sensibilidade e a vulnerabilidade masculina e hipervaloriza a agressividade e o sucesso supra de tudo e de todos.

Há poucas semanas, escrevi neste espaço que “É Preciso Educar o Homem”, sem saber que a Netflix estava prestes a lançar leste petardo, mas apoiada na reparo de que não há políticas públicas ou privadas para inserir o sexo masculino no tal letramento feminista desde o ensino fundamental. Homens mais jovens ainda são moldados pelos parâmetros vigentes de uma sociedade extremamente machista e com o agravante de que agora são tratados uma vez que inadequados, sem o direcionamento necessário para que entendam as demandas do feminismo, não uma vez que um mecanismo de vingança, mas de libertação.

Sobretudo, é preciso libertar o feminismo do próprio umbigo — dos podcasts, dos textões que não saem das bolhas, das convenções com 300 mulheres, como citou Tati Bernardi, das frases de efeito, dos estereótipos ridículos —; de sua enorme fragilidade, que é transformar homens, aliados necessários, em inimigos. Não vai funcionar. Uma vez que sociedade, não podemos desistir meninos, uma vez que Jamie, de “Juvenilidade”, à deriva num mundo em transformação.

A cena final da série não é somente de trinchar o coração, mas uma enorme provocação. A ensino com foco na transformação de estruturas psicológicas e sociais não pode ser responsabilidade somente dos pais, mas das escolas, das instituições e de todas nós, feministas. Temos que encarar que excluir o varão neste processo tem sido um erro.


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