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Novo consignado privado é medida certa em momento duvidoso – 24/03/2025 – Cecilia Machado

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O recém-lançado Crédito do Trabalhador, a novidade modalidade de consignado para quem tem carteira de trabalho assinada ou é MEI, promete uma verdadeira revolução no mercado de empréstimos. Através dele, o trabalhador poderá contratar crédito com parcelas descontadas diretamente na folha de pagamentos, ao limite de 35% do salário.

O protótipo permite transformar em garantia a multa rescisória em caso de deposição, a renda futura do trabalho e 10% do saldo do FGTS, o que reduz a inadimplência nessa modalidade de empréstimo. Com menos riscos para quem empresta, o dispêndio do crédito —isto é, a taxa de juros— também fica menor.

Ou por outra, a forma de solicitação de crédito —em plataforma única do governo e submetida simultaneamente a todas as instituições financeiras— aumenta a competição nesse mercado, o que se traduz em condições mais favoráveis nos empréstimos concedidos pelos bancos aos trabalhadores.

Há um enorme espaço para tornar o crédito ao trabalhador mais barato. Hoje, um empréstimo de R$ 100 via crédito pessoal não consignado implica o pagamento de R$ 200 daqui a um ano. Se a licença se der através do rotativo do cartão, serão R$ 546 em um ano. A título de verificação, o pagamento da mesma dívida no já existente consignado privado é de R$ 141 em igual período.

Isso não significa proferir que os juros no crédito do trabalhador irão inferir patamares tão baixos quanto os que vigoram no atual consignado privado. Nele, as concessões dependem de acordos bilaterais entre bancos e empresas, que são mais fáceis de serem firmados por empresas maiores, mas que também costumam remunerar maiores salários e recrutar trabalhadores de maior escolaridade.

É nesse sentido que o atual consignado privado pode ser visto uma vez que empréstimo de maior qualidade, ou de menor inadimplência, em verificação aos contratos que serão firmados no novo Crédito do Trabalhador. De toda forma, ainda é esperado que o aumento da competição entre os bancos e as novas garantias mais que compensem esse primeiro efeito.

No entanto, nem tudo o que é estruturalmente bom faz sentido em qualquer momento do tempo. Não restam dúvidas de que essa é uma medida que promete taxas de juros mais baixas nos empréstimos contratados pelos trabalhadores. Ou por outra, a expansão do crédito nessa modalidade —com juros mais aderentes aos movimentos da taxa básica da economia— aumenta a potência da política monetária. Mas a lance atual é privado.

As expansões fiscais dos últimos anos foram expressivas, e a economia cresceu supra das expectativas de mercado por quatro anos consecutivos. A atividade continua resiliente, com mercado de trabalho dinâmico, e a inflação, muito supra da meta. No atual ciclo, a política monetária é restritiva e espera-se que traga desaceleração.

O Crédito do Trabalhador, ao contrário, representa uma novidade rodada de estímulos. Seja através da substituição do crédito dispendioso pelo barato, que libera renda para consumo, seja através da expansão de crédito para trabalhadores que não tinham aproximação ao mercado de empréstimos, seus impactos sobre consumo e atividade podem ser expressivos. Unicamente no seu primeiro dia de funcionamento, foram mais de 15 milhões de simulações de crédito.

Sua implementação na atual lance vai na contramão do que é necessário para o controle da inflação e pode resultar em uma política monetária ainda mais restritiva em resposta a ela. É uma medida certa em momento duvidoso.

Na atual lance, uma faseamento mais gradual do crédito ao trabalhador promete melhores resultados.


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