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Mobilidade social e a sensação de não pertencimento – 24/03/2025 – Michael França

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A subida social deveria ser um conforto, mas, para muitos daqueles que emergiram da baixa renda, ela se transforma em um dilema existencial. Em secção, porque subir as escadarias da pirâmide social significa muito mais do que despender um grande esforço para atingir uma situação mais confortável. Significa também um solidão gradual da origem. Significa transpor uma fronteira que nos distancia de quem fomos.

E, em vários casos, o dispêndio emocional da mobilidade se traduz em solidão. Ela se traduz em uma sensação de ser um estranho dentro da própria família, um forasteiro em meio aos amigos antigos. Esse é o preço de transitar entre mundos que parecem falar línguas diferentes. Mundos que se olham com suspicácia e, por vezes, com ensejo hostilidade.

Jovens de origem desfavorecida que conseguem romper a barreira da exclusão e subir socialmente frequentemente carregam consigo a sensação de não pertencimento e, em muitos casos, de não pertencer a lugar nenhum. Esse sentimento, embora intangível, tem efeitos sobre a firmeza emocional dos indivíduos.

Veja… A demência não nasce somente do lado material. Muitos jovens que conquistam espaços acadêmicos e profissionais tradicionalmente ocupados pelas elites econômicas e culturais relatam um desconforto difuso. Um desconforto cuja gênese está no sentimento de que não conseguem se encaixar em determinados ambientes, de uma sensação de inadequação e do receio de serem vistos porquê impostores.

Esse sentimento se intensifica diante de códigos de comportamento sutis, formas de frase e redes de contato às quais eles não tiveram chegada. E cá quero sobresair um ponto: no Brasil e em outras nações desiguais, o pertencimento a certas esferas do poder depende tanto do teor adquirido quanto da fluidez em rituais sociais que foram estruturados para excluir.

Uma vez que destacou Pierre Bourdieu, a desigualdade se perpetua não somente pela falta de renda ou ensino, mas pela privação de um repertório cultural compartilhado pelas elites. Em outras palavras, não basta estudar arduamente, ostentar diplomas e aglomerar credenciais. É preciso interpretar a linguagem não dita, dominar os códigos implícitos e velejar pelas redes informais que regulam a influência.

E assim um conjunto de atitudes aparentemente insignificantes, de olhares viesados a comentários impróprios, acumula-se, enviando uma mensagem metódico: “Você não é um de nós”.

Diante desse cenário, dois caminhos se abrem. O primeiro é a adaptação solitária, em que indivíduos fazem um esforço seivoso no altar da ratificação para se encaixar nos moldes tradicionais, muitas vezes ao dispêndio de sua identidade e saúde mental.

O segundo é a procura por uma transformação coletiva, onde os espaços de estágio e trabalho reconheçam que a verdadeira inclusão vai além da mera presença de alguma flutuação. Ela reside na disposição de questionar e transformar os códigos de conduta excludentes, permitindo que as diversas perspectivas se encontrem em um prolífico diálogo voltado para a construção de um porvir mais hospitaleiro.

O texto é uma homenagem à música “Changes”, de 2Pac, Bruce Hornsby e Dion Evans, interpreta por 2Pac e Talent.


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