Eu me divirto demais com os e-mails que recebo da escola da minha filha. Fico pensando quem é essa figura maravilhosa que acha muito deselegante mandar um anêmico transmitido dizendo “a criança pode vir fantasiada na sexta” e decide polir a sarau do Carnaval metendo um Luperco das lupercálias, trazendo um latim carnis levale, rememorando o entrudo, e por aí vai.
Quando chega o Dia das Crianças, minha filha não somente comemora com brincadeiras, mas ela vivencia o ato de galhofar com atividades contextualizadas. Na última sarau junina, bastaria aos pais dos alunos do primeiro ano da manhã as informações de dia, hora e cor da roupa, mas até chegar a esse ilativo e direto parágrafo, eu precisei relembrar, por uma lauda e meia, a sarau pagã dos solstícios de verão europeu.
Eis que ontem minha filha chegou contando que o banheiro da escola ganhou uma novidade privada. Não sei uma vez que seremos informados de tal feito, mas não pude sofrear minha originalidade. Logo fica cá de presente, ao educandário, o meu singelo trabalho.
Caros pais,
A arte de depurar não é uma arte qualquer. A párvulo precisa estar devidamente inserida e confortável entre os seus para que o ato de purgar seja vivido com sapiência e plenitude.
É sabido que egípcios e chineses ensinaram ao varão primitivo uma das palavras mais bonitas já pronunciadas na história: saneamento básico. Não obstante, foram os gregos e romanos, no belíssimo rio Tibre (o terceiro mais longo da Itália) que deram a humanidade a lição definitiva sobre sistemas hidráulicos.
Surgiram uma vez que tronos de madeiras e em 1596 uma mulher branca, rainha Elizabeth I, foi a primeira a dar descarga em seus dejetos reais. Agora, nossas crianças, do latim creantia, ganham em suas rotinas (termo que tem origem no galicismo “routine”, que por sua vez vem da termo “Route”, que significa rota e portanto chegamos ao latim “rupta”) mais um depositário para o que outrora foram sonhos ultraprocessados.
De valor aclamada até mesmo na ONU, que definiu a data de 19 de novembro uma vez que o dia mundial do banheiro, queremos comemorar sua vindoura chegada! Secreta, sentina, retrete, quartinho. Do latim latrina-lavatrina. Lá vem ela!
É com infindo desfastio que informamos a chegada de uma novidade privada no banheiro das crianças do ensino fundamental. E, prova de que estamos no caminho visível, o envolvimento das mesmas com a novidade tem sido notável.
