Na próxima segunda-feira (27), será comemorado o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, data que marca neste ano o octogésimo aniversário da libertação dos campos de concentração, trabalho forçado e extermínio que faziam segmento do multíplice de Auschwitz-Birkenau.
Entre as minhas leituras mais recentes sobre o objecto, destaco o livro de 1969 “The Sunflower: On the Possibilities and Limits of Forgiveness” (o girassol: sobre as possibilidades e os limites do perdão), de Simon Wiesenthal (1908-2005). Um sobrevivente de campo de concentração e repórter judeu de nacionalidade austríaca que, durante o pós-guerra, tornou-se célebre pelo seu trabalho de caça a criminosos nazistas uma vez que Franz Murer (1912-1994), comandante do Gueto de Vilna, na Lituânia.
Dividido em duas partes, o livro compreende uma curta narrativa elaborada por Wiesenthal a partir de uma das suas experiências de prisioneiro, muito uma vez que uma coleção de comentários escritos por 53 personalidades, entre elas, o diplomata bósnio Sven Alkalaj, o ensaísta e sobrevivente do imolação Jean Améry, a historiadora Deborah E. Lipstadt, o rabino Abraham Joshua Heschel, o prior Desmond Tutu, o crítico literário Tzvetan Todorov e Albert Speer, o arquiteto-chefe e ministro dos armamentos da Alemanha nazista.
Em seu texto, Wiesenthal relata que, durante o período em que esteve recluso nos periferia de Lviv, na atual Ucrânia, os oficiais do campo de concentração teriam ordenado ao seu grupo de trabalho que limpasse um hospital improvisado que funcionava no prédio da antiga escola técnica da cidade, onde ele havia estudado arquitetura.
Lá chegando, Wiesenthal comenta que foi abordado por uma enfermeira e levado a uma sala escura, onde encontrou um jovem solene da SS de quem rosto estava tapado por ataduras. Aterrorizado pela proximidade da morte, o solene ansiava por revelar sua participação em um violação teratológico e obter o perdão de um judeu.
Sobressaltado, pois sabia que, se fosse revelado ali, estaria descumprindo ordens e provavelmente seria morto, Wiesenthal ainda assim escuta toda a história do rapaz que, nascido em Stuttgart, argumentava ter sido outra pessoa antes de resolver entrar para a SS, pois fora criado por uma devotada mãe católica e um pai social-democrata que, desde o início do seu envolvimento com o nazismo, se opôs ao posicionamento do rebento.
De volta ao campo de concentração, Wiesenthal compartilha essa história com alguns de seus companheiros e explica que deixou a sala do hospital em silêncio, sem perdoar o moribundo. Pois, embora não duvidasse do compunção do jovem da SS, Wiesenthal se sentia uma vez que se um super-homem houvesse pedido justamente a ele, um sub-humano, para arcar com o peso de uma decisão sobre-humana.
Um dos prisioneiros comenta que o pedido do solene da SS era obsceno e, que diante dos horrores que eles vivenciavam no campo, Wiesenthal não tinha que se preocupar com os sentimentos do jovem. Outro ressalta que ninguém está autorizado a perdoar em nome de terceiros. Nenhum deles, no entanto, consegue chegar a uma epílogo sobre qual teria sido a coisa certa a se fazer no lugar do colega.
Anos mais tarde, Wiesenthal torna a discussão pública, convidando líderes religiosos de tradições diversas, além de escritores, ativistas, acadêmicos, políticos, vítimas e algozes, para mourejar com o questionamento: “E você, o que teria feito no meu lugar?”.
Alguns convidados argumentam que teriam feito exatamente o mesmo que o responsável. Outros comentam que ficariam sem saber uma vez que agir ou que teriam perdoado o solene da SS. De todas as respostas, a mais contundente talvez seja a de Jean Améry, para quem, enquanto vítima, muito mais importante do que discutir o perdão é manter-se vigilante e agir com justiça. Finalmente, embora imperfeita, ela continua sendo a única instrumento que possuímos para tentar evitar que crimes semelhantes ocorram tanto em nossa quadra quanto no horizonte.