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Mãe solteira, mãe solo e outras solidões – 17/03/2025 – Vera Iaconelli

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Mãe solteira é o termo pejorativo que se usa para qualificar uma mulher que engravida fora do casamento.

Ele se baseia na fantasia de que o varão tem pouca ou nenhuma responsabilidade na concepção, o que faria dessas mães “virgens” Marias arrependidas. Trata-se de um paradoxo: onipotente ao engravidar por conta própria e decaída por ter ofertado aos encantos de um varão. A figura do pai solteiro, por sua vez, não existe.

Solteira, solta, sem a chancela da lei matrimonial, com a sexualidade descontrolada, o termo deu lugar a mãe solo. A nomeação cá não é sem causas e consequências, marcando uma viradela no lugar dessas mulheres e fazendo o guarda-chuva que as irmana muito mais abrangente.

Mãe solo pode ser a mulher que engravidou em uma relação consentida ou não, cuja gravidez Estado e Igreja decidiram que ela deveria levar adiante à revelia de seu libido. Nesses casos, fica difícil notabilizar quando começa uma instituição e acaba a outra, fazendo do termo Estado secular mais uma quimera do que um veste.

É por valor único e individual dessas mulheres e de suas redes de esteio —compostas por outras mulheres— que as crianças, fruto dessa arbitrariedade, são cuidadas. Quando as instituições que deveriam proteger as novas gerações lhes viram as costas, as mulheres revelam sua posição moral: elas têm sido as guardiãs do zelo.

Não importa o quão bem-sucedida profissionalmente, reconhecida ou descolada, a maternidade dá a nota do lugar da mulher na sociedade. Embora as mães vivam experiências socioeconômicas que vão do firmamento ao inferno, há um pouco do qual nenhuma delas escapa: elas são responsabilizadas pelas próximas gerações.

Se alguém vem rendê-las, é na exigência de lhes fazer um obséquio, não de assumir a corresponsabilidade.

Essa situação, que desemboca na trouxa mental, leva muitas mulheres a reivindicarem a frase mãe solo, menos por terem tido filhos fora de uma relação sólido e mais para caracterizar a solidão que lhes é imposta. Junte-se a isso o veste de que elas são provedoras financeiras e teremos o caos atual.

Os homens têm abortado seus filhos indesejados, largando-os à própria sorte. Para muitos, separar-se da mulher equivale a separar-se dos filhos que se teve com ela. Os filhos só voltam a ser considerados porquê tais quando o pai, já na vetustez, exige o zelo ou o afeto que nunca lhes ofereceu.

Mesmo casais homoafetivos podem reproduzir, na parentalidade, a injusta ramificação de responsabilidades, reforçando o ditado popular de que “mãe só tem uma”. Revela-se aí nossa dificuldade em pensar o zelo de forma compartilhada.

As esposas tradicionais apostam em um padrão que começou a ruir nos anos 1950, no qual a subordinação financeira e o risco de serem abandonadas as expõem ao submetimento e à violência.

As mães solo ainda têm muito pelo que lutar: pensões condizentes, guarda compartilhada responsável, licença parental equânime, equiparação salarial, enfim, justiça. Quando comparadas às sorridentes “trad wives” que inundam as redes sociais, aferradas à sua solidão, elas parecem exaustas e descabeladas. O feminismo é a luta pelo recta das mulheres à escolha e à liberdade.

Ninguém disse que seria fácil.


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