Lições sobre uma vez que reconciliar um país

No evento em que conheci Patricia de Lille, sabendo dessa história, pedi para desancar um papo com ela, e ela aceitou de súbito. Fomos para uma dimensão reservada do hotel, nos sentamos numa mesa e eu comecei a fazer perguntas.

De Lille contou de uma vez que Mandela, que era quase 40 anos mais velho do que ela, a tratava uma vez que sua protegida. De uma vez que ele às vezes passava em sua mansão para irem juntos às sessões, de uma vez que ele lia para ela em voz subida o jornal e comentava algumas notícias, de uma vez que ele dizia a ela que sem unir o país nenhum tipo de porvir seria verosímil.

O Apartheid, o regime que separou brancos e negros e que autorizava que a polícia matasse, prendesse e torturasse negros à luz do dia (parece familiar?), ainda estava conceitualmente bastante vivo quando Mandela foi eleito em 1994. Sua missão seria a de fabricar um novo país.

A percentagem da verdade e reconciliação sul-africana foi uma das mais profundas do mundo e colocou frente primeiro algozes e vítimas – ou famílias das vítimas. De Lille lembra de entrar em salas e mais salas, frente primeiro com brancos, e de pensar que não conseguiria passar por aquilo. Ad sessões foram filmadas e podem ser vistas no museu do Apartheid, em Joanesburgo. Foi lá pela primeira vez ao lado de Djamila Ribeiro, Camila Pitanga e Nataly Neri e poucas coisas na vida foram tão intensas quanto essa visitante.

De Lille lembra de um dia específico.

Nesse dia ela estava frente a frente com o carrasco e, para não perder a cabeça, ficava pinçando seu próprio braço com a outra mão. Mandela, que ficava indo de sala em sala, foi avisado de que havia uma sala em que as coisas estavam muito tensas. Era a de de Lille. Ele foi até lá, perguntou o que estava acontecendo e pediu que ela saísse com ele por alguns minutos. De Lille saiu e disse que não ia ser capaz de mourejar com aquele diálogo sem cometer qualquer tipo de violência. Mostrou e ele seu braço ferido e disse que estava tentando se controlar. E portanto ela conta que lembra exatamente do que Mandela disse em seguida.