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Intimidação e humilhação no manual de poder de Trump – 11/03/2025 – Wilson Gomes

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O estilo de Donald Trump combina dois modelos muito conhecidos: o do empresário impiedoso, brutal até, que ele incorporou nos negócios e encenou no reality show O Noviço, e o do rufião escolar, o “bully” que lidera gangues e vive de intimidação.

A diferença entre o negociador implacável, de que Trump tanto se orgulha, e o autocrata que subjuga os mais fracos, dentro e fora de seu país, é mais de graduação do que de origem. No poder, ele resolveu expulsar a evidência.

O Salão Oval da Lar Branca virou o galeria da escola em que Trump e Vance cercaram Zelenski e o submeteram a uma sessão pública de assédio, violência e humilhação. Houve dedo na rostro, várias acusações (desrespeito, ingratidão, roupa inapropriada), insultos e aquela sensação de que tudo o que queriam era provar que eram machos e que mandavam no pedaço.

Foi detestável? Sem incerteza. A reação, em toda secção, foi extremamente negativa e certamente produzirá consequências globais, uma vez que a novidade vaga de rearmamento, que voltou ao oração e aos orçamentos públicos europeus. O traje, porém, é que Trump entrou em campo, no seu segundo procuração, apostando ainda mais cimeira no estilo valentão.

A abordagem transacional na diplomacia, refletindo um estilo duro, centrado em ganhos unilaterais, sem escrúpulos quanto ao uso de pressões e ameaças para extrair concessões e exibir poder, é somente uma secção desse conjunto de atitudes. Ataques pessoais a críticos e oponentes, incentivo à punição, desumanização de grupos específicos e uso inescrupuloso do Estado para emudecer adversários —nenhum recurso é considerado fora do alcance do presidente americano e sua turma.

Constatado o traje, devo expressar que é um erro de estudo focar excessivamente em quem exerce dessa forma o poder político sem considerar aqueles que o elegeram justamente para fazer o que faz. Trump sabia que estava fazendo uma exibição e para quem se exibia. As câmeras, diante das quais foi encenado o espetáculo de humilhação de Zelenski, não estavam no Salão Oval, naquele preciso momento, por casualidade. Nem seria razoável imaginar que Trump não soubesse para qual público representava seu papel, que emoções desejava suscitar e quais convicções pretendia substanciar com aquele show.

O apelo do nacionalismo etnocêntrico e do “cada um por si” encontra terreno fértil na demografia dos eleitores trumpistas e de sua base de escora. Estudos mostram que os eleitores atraídos por Trump pontuam cimeira em escalas de autoritarismo, uma predisposição a valorizar ordem, obediência a líderes fortes e punição de desvios.

Entre seus apoiadores, é muito generalidade a tolerância a transgressões “para pôr o país em ordem”, aceitando que o líder viole “algumas regras” para recolocar as coisas no eixo. O susto e a percepção de ameaças relacionadas a terrorismo, criminalidade e imigração fazem secção dessa equação. Também importante é a sensação de ameaço ao status do próprio grupo (brancos, cristãos, conservadores, nacionais), que conduz ao escora ao famigerado Maga.

Uma parcela importante do seu eleitorado costuma ver a sociedade uma vez que uma competição entre vencedores e perdedores, desejando que seu grupo esteja no topo. Também têm apreço por hierarquias tradicionais e cultivam uma mentalidade de cerco —o sentimento de ameaço externa ao modo de vida americano e a urgência de resguardo contra isso.

Quem percebe o mundo dessa forma tende a ser etnocêntrico, valorizar a conformidade, punir dissidentes, nutrir hostilidade ou desprezo por grupos “de fora” e contemplar líderes que não hesitem em fazer o que for preciso.

Some-se a isso o ressentimento e a indignação. Essas pessoas compartilham a sensação de terem sido enganadas ou deixadas para trás —seja pelas elites “globalistas”, seja por políticas que favorecem minorias à custa do cidadão “generalidade”.

A oposição à imigração e ao auxílio a países estrangeiros e o escora a políticas bélicas nacionalistas ou ao enfrentamento invasivo ao que for considerado doutrinação progressista alimentam-se dessa atitude.

Nem todo votante de Trump é assim, e as nuances, uma vez que sempre, importam. Conservadores tradicionais, republicanos fiéis ao partido, pessoas cansadas da ortodoxia progressista podem não compartilhar integralmente do etos radical, mas votaram por cômputo político.

Para esses eleitores, Trump encenará outros números circenses; no momento, está ocupado representando o papel do varão poderoso, inclemente, impávido e sem o menor escrúpulo no cumprimento da missão que lhe foi dada. Por enquanto, ai de quem permanecer no seu caminho.


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