Aapo se levantou, olhou o Mar Báltico e contemplou o sucesso da transformação social e ambiental. Seu carro elétrico simboliza o triunfo da transição energética de seu país. Em breve, todos os veículos serão elétricos, movidos a baterias de lítio, um recurso considerado limpo e seguro. Para Aapo e seus compatriotas, essa mudança representa progresso e sustentabilidade.
Do outro lado do mundo, Amaru sai para pastorear suas lhamas. Encontra menos chuva e comida, pois o lítio é tirado perto de sua localidade. Novas infraestruturas surgiram, porquê uma escola e um campo de esportes, mas sua comunidade sente que alguma coisa se perdeu junto com o recurso. A terreno já não é a mesma, e o equilíbrio ambiental foi comprometido.
Vivemos em um mundo interconectado, onde decisões tomadas em um continente afetam regiões distantes. A ciência estuda esses fluxos de material e energia entre locais afastados, conhecidos porquê “teleacoplamentos”, que interligam ecossistemas e sociedades. As baterias de lítio que alimentam carros elétricos na Europa e na Ásia dependem de um processo extrativo intenso no Sul Global, gerando impactos invisíveis para quem consome esses produtos.
O lítio usado nos veículos porquê o de Aapo é tirado das salinas andinas. Esse processo exige a evaporação de grandes volumes de chuva, incluindo o uso de chuva rebuçado subterrânea, precípuo para um ecossistema estéril.
A Puna, onde Amaru vive, faz segmento do “triângulo do lítio” (Bolívia, Chile e Argentina), região que concentra mais de 60% das reservas mundiais desse mineral. O interesse de empresas multinacionais e governos locais cresce sempre devido ao seu valor estratégico e econômico. Entretanto, os benefícios para as comunidades locais são mínimos, enquanto os danos ambientais e sociais se acumulam.
A exploração do lítio pode levar ao ressecamento de áreas úmidas, perda de biodiversidade e danos irreversíveis aos ecossistemas. No Chile, o Salar de Atacama já sofre com o rebaixamento dos lençóis freáticos, que caíram até 10 metros, além do naufrágio do solo. Na Argentina, fenômenos semelhantes estão sendo observados. Sem chuva, as paisagens que sustentam modos de vida ancestrais desaparecem, e com elas, a identidade de povos tradicionais.
A transição energética deve ser justa e sustentável. Atualmente, o lítio sul-americano abastece a China e o Setentrião Global, mas os países produtores continuam exportando somente a matéria-prima, sem casar valor ao recurso. Para mudar esse cenário, é precípuo desenvolver métodos de extração menos agressivos, além de prometer maior participação sítio na masmorra produtiva, promovendo a fabricação de baterias e outros componentes dentro da própria região.
Em 2023, a União Europeia aprovou o Regulamento Livre de Desmatamento (EUDR), exigindo rastreabilidade de commodities porquê músculos e grãos, para prometer que sua produção não esteja associada ao desmatamento. Medidas similares poderiam ser aplicadas ao lítio,garantindo que sua extração não comprometa o meio envolvente nem as comunidades locais. Esse tipo de política pode simbolizar um primeiro passo para um negócio global mais responsável.
Aapo e Amaru vivem realidades opostas, mas fazem segmento do mesmo planeta. Para que a transição energética seja verdadeiramente sustentável, é fundamental considerar os impactos ambientais e sociais de cada lanço do processo, desde a extração até o consumo. Somente assim será verosímil lastrar progresso e preservação, garantindo um horizonte viável para todos.