Gente ou máquina? Por que não precisamos de amizades ‘de baixa manutenção’

A lógica da produtividade se alastrou para outros campos da vida. Queremos ser os melhores em nossos hobbies, “entregar tudo” nos nossos relacionamentos, maltratar todos os recordes nos esportes. No caso da sentença que me incomoda, parece que queremos “otimizar” as nossas relações de amizade. E isso não existe.

Também Han diz que em um mundo onde há espírito comunitário e criamos disposição de sonância e capacidade de repercutir o outro, não é preciso “fabricar empatia”. Se estamos de vestimenta conectados, podemos, inclusive, permanecer um tempo sem promover encontros, que se tivermos uma relação madura e dialogada, provavelmente vai permanecer tudo muito.

Pensar desta forma é mecanizar (e, ousaria expor, matar) relações que são vivas e que, portanto, terão características próprias e um dinamismo que exige de nós presença e atenção contínuas para serem cultivadas. O problema não está na complicação das relações, mas, sim, num mundo que quer que as gerenciemos porquê se fossem projetos.

Em vez de expor “preciso de amizades de baixa manutenção”, que tal expor que está atravessando um momento de sobrecarga e precisa de mais leveza ou está sem tempo para priorizar esta relação neste momento? Que tal olhar periodicamente para aquelas relações importantes para você e que você pareceu negligenciar?

Espero que oriente texto não sirva para que alguém justifique a sua pouquidade ou a “falta de tempo” para se destinar a seus afetos. Pelo contrário. Advogo que —coletivamente— precisamos liberar tempo para os afetos. E limitar tempo e vontade que dedicamos ao trabalho e ao consumo. E a suas lógicas.

Em um mundo que corre, muitas vezes somos convidados a viver estes dilemas e morar nestas contradições. Muitos de nós não conseguimos (ou não temos condições) de fazer boas escolhas de tempo para nutrir nossas relações.