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Fique dez minutos na farmácia e ouvirá a vocábulo Ozempic – 09/03/2025 – Becky S. Korich

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Nossa musa Fernanda Torres emagreceu 10 Kg para interpretar Eunice Paiva. Perto das atrizes que desfilavam pelo tapete vermelho do Oscar, ela parecia estar “supra do peso”. Fernanda é elegante e tem mesocarpo —encarnou Eunice sem falta nem excessos. Demi Moore, que já era magra, apareceu substancialmente mais magra. De Nicole Kidman, que já era esquelética, só sobraram clavículas e bochechas preenchidas. Ariana Grande encolheu de PP para PPP. Sua colega de Wicked, Cynthia Erivo, que já declarou que adora batatas fritas, teve que substituí-las por folhas de rúcula para caber no vestido e transpor muito nas fotos. São atrizes lindas, talentosas e inteligentes, que estão deixando seus corpos se definhar a níveis perturbadores de magreza.

Se havia alguma consistência no movimento da positividade corporal, hoje ele perdeu todo o seu peso —não resisti ao trocadilho. A perigosa crença de que magreza é sinônimo de formosura voltou com força.

Quer uma prova? Fique dez minutos no balcão de uma farmácia e você certamente ouvirá a vocábulo Ozempic —ou similares uma vez que Wegovy e Mounjaro. A vaga insana do uso de drogas injetáveis para fins estéticos sepultou de vez a positividade corporal e deu uma canetada —outro trocadilho irresistível— na teoria da valorização do corpo com suas características próprias. A tirania dos padrões estéticos continua esmagando sobretudo as mulheres.

A verdade é que o uso indiscriminado do Ozempic é uma das provas de que o movimento de positividade corporal foi uma farsa. Apesar da boa intenção por trás de lemas fofos uma vez que “faça o que te faz sentir muito”, “todos os corpos são lindos” e “meu tamanho não é meu valor”, as mulheres não abraçaram as suas estrias, não amaram as suas curvas e não celebraram seus corpos fora dos moldes e medidas: mudanças não acontecem por sentenças motivacionais. Seria ingênuo crer que mensagens tão insossas e genéricas sobre a nossa complexa relação com a imagem corporal teriam força para competir com os padrões estreitos de formosura tão enraizados na magreza.

Vamos deixar evidente. Não sou anti-Ozempic. Muito pelo contrário, devemos comemorar esse medicamento revolucionário, que beneficia tanta gente e trouxe grandes transformações na saúde. Eu, que tento despistar a gordura que a menopausa misteriosamente insiste em jogar para minha cintura, guardo a possibilidade de me socorrer das canetas para quando meus botões derem sinais de exaustão.

Meu ponto cá são os efeitos colaterais que vão muito além da saúde física. Por mais conscientes que sejamos, a popularização da semaglutida foi a última vocábulo na enunciação de guerra contra a gordura e a confirmação do literato à magreza.

Um dos piores efeitos dessa mentalidade é a percepção distorcida do próprio corpo, que afeta principalmente jovens, que são mais vulneráveis a tolerar transtornos alimentares. Essa distorção é revérbero de uma distorção ainda maior: sob o pretexto da falsa teoria de “autocuidado”, a tal da positividade corporal foi insidiosamente desvirtuada para legitimar a procura obsessiva por um corpo considerado “perfeito” —e, portanto, inalcançável.

É uma procura sem termo, que nos faz perder de vista o verdadeiro significado de saúde, bem-estar e até da própria formosura.

Palato não se discute, mas quem consegue descobrir normal essa falta de bundas e sobra de ossos saltados uma vez que sinônimo de elegância?


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